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Opinião
07/02/2008 - 13h39
Veremos que bixo vai dar
Percival Puggina - Parlata
 

"Enquanto milhares de vestibulandos começaram ontem a se dirigir à UFRGS para encaminhar a matrícula, candidatos reprovados procuraram escritórios de advocacia para tentar recuperar a vaga destinada aos colegas cotistas..." (Zero Hora, 23/01/2008).

O leitor já deve ter percebido que não me enganei. O bixo, no título deste artigo, é assim mesmo, com "x". A estas alturas, dezenas de candidatos buscam reverter o resultado do exame de ingresso que os excluiu dos cursos desejados em favor de estudantes com pior desempenho. Veremos que bixo vai dar.

Por mais sensível que sejamos aos dramas sociais e às dificuldades alheias, e por mais que nos constranjam quaisquer iniqüidades, fica difícil aceitar o fato concreto do estudante que ganhou e não levou, quando isso se dá em favor de outro que não ganhou e levou.

Pode a justiça social ser construída à custa de escancarada injustiça pessoal? Uma coisa é atribuir-se a uma parte da sociedade o ônus de certos mínimos necessários à outra parte dela mesma. Coisa bem diferente é ensaiar uma forma de justiça mediante injustiça praticada contra quem nada tem a ver com isso. A discriminação racial que por vezes se constata na vida privada é crime perante a lei e brada aos céus (como no grito de Castro Alves ao "senhor Deus dos desgraçados" em seu "Navio negreiro"). Mas também dói a injustiça legal, oficial, federal, com carimbo e certidão, que incide sobre o lombo do estudante não-negro que queimou pestanas para obter classificação no exame vestibular e perde sua vaga para outro com pontuação menor. Tente leitor, convencer esse aluno de que ele não está sofrendo discriminação racial. Tente dizer-lhe que não é vítima de injustiça. E não lhe será muito difícil perceber o quanto as tais cotas estimulam o racismo.

Não se acolha esse disparate, em juízo, com base na autonomia universitária, como se anuncia por aí. A universidade não vive fora do ordenamento jurídico nacional. Seria acolhido o argumento da autonomia se a PUC só matriculasse alunos católicos, ou se a Ulbra recusasse muçulmanos? E se a reserva de cota racial não fosse de 30%, mas de 100%? Tudo bem?

Um conjunto de fatores sustenta esse tipo de artifício: 1º) a recusa ideológica ao mérito e à competitividade, vistos pela esquerda como inaceitável subproduto do malvado capitalismo; 2º) a atitude demagógica que, perante qualquer problema, procura botar a culpa em alguém e escolher a saída mais fácil; 3º) o clássico desrespeito de setores da esquerda à propriedade privada: a cota racial é irmã caçula da invasão; é um esbulho possessório ao bem havido e conquistado por outrem no concurso intelectual.

Quem quiser encontrar uma escandalosa injustiça na nossa universidade pública, deve vasculhar essa coisa repugnante que é a gratuidade absoluta do ensino superior para quem pode muito bem pagar por ele. Aí, sim, senhores defensores das cotas, está uma robusta causa dos problemas da educação nacional. Quando acabarmos com esse privilégio que mesmo países ricos não se permitem conceder, disporemos de mais recursos para qualificar o ensino público fundamental e médio, atacando a injustiça ali onde ela se instala e passa a produzir seus intoleráveis frutos. Esse tema, leitor, evidencia a diferença fundamental entre direita e esquerda quanto à questão da injustiça. Ao passo que a esquerda, sem quaisquer resultados práticos, deita, rola e enrola no discurso sobre as conseqüências, a direita identifica e trata de agir sobre as causas. Mas disso ninguém fala, bicho.


Nota do Editor: Percival Puggina (www.puggina.org) é arquiteto e da Presidente Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública. Conferencista muito solicitado, profere dezenas de palestras por ano em todo o país sobre temas sociais, políticos e religiosos. Escreve semanalmente artigos de opinião para mais de uma centena de jornais do Rio Grande do Sul.

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