Há pelo menos sete anos, os cofres da República são sangrados. Ministros e altos funcionários e áulicos, que podem ser comparados à popular "barata que nunca comeu melado", usaram os cartões de crédito corporativos como se fosse seu próprio patrimônio. Só no ano passado, consumiram R$ 75,6 milhões. Despesas em freeshops, saques "cash" e até contas no recanto da boemia são pagos pelo suado dinheiro que o povo e o empresariado carreiam aos cofres públicos através da formidável carga tributária vigente. Isso é uma indignidade! O cartão é uma facilidade e deve ser usado. Mas, quando pago com dinheiro público, tem de atender única e exclusivamente ao interesse público, com limites, rigoroso controle e a mais meticulosa prestação de contas, para evitar desmando e corrupção. Ministros e funcionários têm direito a diárias justas e ao pagamento das despesas decorrentes do exercício de suas funções. Mas não podem ser custeados particularmente em suas futilidades ou em itens que qualquer vivente pagaria do próprio bolso. O presidente Lula fez mal ao criar tantos cargos de ministro e funções que pouco ou nada representam. Fez pior quando, para acomodações políticas, nomeou para esses postos gente sem bagagem e equilíbrio para fazer parte de um governo que se pretende sério. O resultado é essa montanha de escândalos que coloca em xeque a dignidade da administração e chega a emporcalhar a figura do operário que chegou ao mais alto cargo da Nação. Levou 500 anos para um trabalhador chegar lá e sua negligência está cavando um fosso tão grande, que poderá demorar mais 500 para isso se repetir. Se vier a repetir... Quem assume uma função pública deve fazê-lo com altruísmo, pensando em servir, não em servir-se. Autoridades e servidores (principalmente os altos) têm o dever de se comportar sóbria e convenientemente. Não é porque o cofre está aberto que se deve pilhar o seu conteúdo. Foi preciso um escândalo com baixa ministerial para o governo criar regras ao uso do cartão, o quê deveria ter feito antes da sua adoção. Assim ocorre na iniciativa privada. Espera-se que agora a sangria acabe e os esbulhadores do sistema passem por severa auditoria e sejam compelidos a devolver, com os acréscimos legais, tudo que sacaram ou gastaram indevidamente. Não é justo o povo, legitimo dono do dinheiro público, sofrer com a falta de serviços básicos, enquanto esse bando de insensatos usa o dinheiro dos impostos para viver como nunca viveu, numa nababesca "ilha da fantasia". Para demonstrar seriedade, o próprio governo deveria começar as apurações destes crimes, antes que isso seja feito pela Justiça e Ministério Público. Que se apure, inclusive, os desvios do passado, avançando até o limite estabelecido pela prescrição judicial... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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