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Crônicas
09/02/2008 - 12h11
A lágrima de Mozart
Wellen de Barros
 

Uma súplica da fragilidade humana no mistério divino é o tema central no Réquiem de Mozart, jovem adulto agonizante entre ficção e realidade.

Seu questionamento sobre a meta certeira de toda a humanidade é quase um pedido de auto-misericórdia.

A voz na música de Mozart, especialmente nesse sacrifício de descanso (Missa de Réquiem), deve possuir características de leveza e agilidade, pois no geral, na obra de Mozart, subliminarmente encontramos uma crítica sarcástica aos valores e costumes de sua época, o que exige do intérprete um colorido vocal peculiar.

Seria a morte o fim de tudo? Essa é a pergunta que Mozart se faz ao compor o Réquiem, um pedido de perdão e ao mesmo tempo a tentativa de um diálogo entre Pai e filho. Um ajuste de contas?

O Kyrie, a prece de perdão, tem início com o timbre mais grave e, em seguida, percorre por todo coral como um cânone persuasivo de uma melodia suave, mas penetrante, em seguida; um Dies Irae dramático, onde o Dia da Ira está por vir de forma impiedosa e dilacerante; um Turba mirum, onde os solistas dialogam de modo estático, quase patético, expiação – para ressurgir, é preciso purificar até o último instante, e assim merecer o doce refrigério no Criador; um Confutatis, sombrio com teor pessimista, mas ainda resta uma tentativa - suplicar acolhida entre os eleitos.

Mozart consegue vislumbrar dentro de seu delírio agonizante como seria sua vida definitiva. É como se ouvisse um coro de anjos à sua volta para o receber; então Lacrimosa surge como um último apelo de salvação eterna. Sua música é melancólica, é a lágrima que Mozart tem para oferecer como forma de arrependimento: perdoai–me, Deus meu piedoso Senhor Jesus, dai-me o descanso eterno. Amém.

Mozart morre antes de completar Lacrimosa, e ainda faltando completar os últimos números.

Ele, que pouco antes era capaz de compor uma ópera em quinze dias, a morte o encontra com a partitura incompleta. O pânico diante da própria morte talvez seja a melhor justificativa para o bloqueio que o impediu de concluí-la. Seu discípulo, Franz Süssmayr, encarregou-se de terminar a obra do mestre.


Nota do Editor: Wellen de Barros é cantora do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Possui formação em Piano e Harmonia pelo Conservatório de Música de Niterói. Estudou interpretação Operística, História da Ópera, História da Música e Canto Lírico no Rio de Janeiro. Como professora do Conservatório de Música, desenvolve projeto de Apreciação Musical junto a estudantes de ensino médio e universitários. É pesquisadora de dança e música, e escreve artigos para o Theatro Municipal sobre ópera, música sinfônica e ballet. Como pesquisadora, atualmente desenvolve um projeto de estudo e pesquisa sobre a arte do ballet e do canto.

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