Apesar do choro contumaz de que nos primeiros anos de governo os municípios não têm dinheiro suficiente para cuidar da saúde, educação, transporte e de outras obrigações inadiáveis, a maioria dos prefeitos, milagrosamente, começa o último ano do mandato com as burras cheias, para realizar grande número de obras. O de São Paulo, por exemplo, está com mais de R$ 1 bilhão para a gastança, e 80 obras para inaugurar até o fim de março. Com essas obras, os de primeiro mandato buscam reelegerem-se e os reeleitos tentam fazer o sucessor, garantindo a manutenção do seu cabide de empregos e os duvidosos esquemas de sua cupinchada. O dinheiro deveria ter sido aplicado com todo o critério no primeiro, segundo ou terceiro ano, mas ficou retido no cofre para burlar a legislação eleitoral na hora em que o omisso político, demagogicamente, precisa posar de “bom administrador”, “dinâmico” ou qualquer outro adjetivo favorável. É sistemático, ao assumir, o prefeito dizer que o cofre está vazio e há muita conta para pagar. No ano 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal foi editada para acabar com essa arenga, mas não conseguiu. Centenas, talvez milhares de administradores municipais, ainda insistem em dizer que suas prefeituras estão quebradas, culpando os antecessores, mas, espantosamente, sobram com muito dinheiro para as obras eleitoreiras do último ano. Isso é uma indignidade. Se o antecessor, de fato, foi um mau administrador, o governante tem a obrigação de cobrar reparação. No entanto, prefere continuar a saga errante e, não poucas vezes, faz pior. Prefeito, governador do Estado ou presidente da República são apenas aqueles que se propuseram e o povo aceitou para administrar o governo, mantido pelo dinheiro público, arrecadado de toda a população, do mais rico ao mais pobre. Via-de-regra, esses cidadãos prometem aquilo que sabem não poderem cumprir. Quando assumem, nos enganam. E nós, povo desorganizado, nada fazemos em represália. Toda vez que um administrador público mete a mão ou deixa de aplicar os recursos na hora certa (para fazê-lo quando lhe convém eleitoralmente), está cometendo um crime. Sua atitude interesseira leva crianças a morrerem de verminose, doentes a perecerem nas portas de hospitais, chefes de família a não terem emprego, enchentes destruidoras, acidentes nas ruas e estradas mal conservadas e a muitos outros males. O povo – verdadeiro dono dos recursos que os governantes tem o mau hábito de guardar para usar no ano eleitoral – deveria virar-lhe as costas e nunca mais votar neles nem nos seus indicados. O verdadeiro governante é aquele que, no momento certo, aplica da melhor forma o dinheiro público, para resolver os problemas da população. Os que governam insanamente, pensando na próxima eleição, merecem o repúdio e o maior desprezo do povo, pois são os promotores da fome, da miséria e da desgraça popular. Pau neles!!! Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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