A Igreja - acima sua denominação ou segmento religioso - é um dinâmico e poderoso instrumento social. Seu poder de conscientização e mobilização traz importantes resultados para o povo que, além do aspecto espiritual, carece de orientação e serviços para a boa convivência no dia-a-dia. A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) deu início à Campanha da Fraternidade de 2008, investindo forte contra o aborto. O tema é forte e transcende os limites da religião e da ética na medida em que trata da vida e procedimentos das futuras gerações. Criada em 1962, na esteira do Concílio Vaticano II, a campanha já versou sobre temas da mais alta relevância (família, liberdade, migração, saúde, trabalho etc.), com excelente residual, que marca positivamente nossa sociedade. A estrutura altamente capilar da igreja católica - em toda localidade, por menor que seja, existe pelo menos uma - é o grande fator de aglutinação e discussão das carências do povo e do encaminhamento de soluções, junto às autoridades, à sociedade e até no próprio conjunto comunitário. Engana-se quem vê as igrejas só como indissolúveis casas de fé. A fé e a religiosidade fazem a essência da instituição, mas ela só se completa quando desenvolve atividades que conduzem o cidadão para uma vida regrada e mobiliza a comunidade para se fortalecer e resolver seus problemas. Em épocas de intolerância, a atividade social da igreja foi confundida com intromissão político-administrativa. Essa questão merece muita reflexão, tanto dos questionadores das ações da igreja, quanto dos seus próprios dirigentes e membros. Independente de sua orientação religiosa, os cidadãos e principalmente as autoridades constituídas, não podem abrir mão da formidável estrutura das igrejas e similares ligados à fé. Seus membros e dirigentes são todos cidadãos e, portanto, livres para atuar politicamente. A instituição religiosa é que não deve fazer política partidária. Mas não pode abrir mão do direito (até dever) de participar ecleticamente do movimento político, emprestando seu apoio e até os recursos de mobilização para as boas causas e combatendo com firmeza as más. A sociedade lucrará muito no dia que ficar mais clara a existência das igrejas como grandes instituições sociais, voltadas para a organização e o desenvolvimento do cidadão. Cada qual com sua religião e as preferências político-pessoais de seus membros. Mas todas empenhadas na grande causa humanitária: o bem-estar geral. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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