Você já ouviu falar em trauma? Aposto que sim. É raro encontrar alguém que não tenha, pelo menos, ouvido a respeito. Bem, trauma normalmente é um choque, uma reação muitas vezes psíquica em relação ao agente externo que o causou. Claro, estou especificando, existem outros tipos de origens diversas. Tem aqueles que vêm da infância, muito comuns, por vezes desconhecidos de nós mesmos, ocultos talvez por necessidade. Mas andei refletindo a respeito de traumas recentes, do ano passado, de três meses atrás, de ontem... que coisa estranha, dependendo do grau de sensibilidade do indivíduo qualquer coisa que lembre o agente estressor e pronto: lá vem o danado rondar a psique. Essa conversa começou na casa de uma tia-avó. Ela está meio adoentada e com dificuldades de locomoção. Lá tem um cãozinho lindo, coisinha meiga, mas o bichinho não dá sossego. Outro dia pulou em cima de sua cama, colocou a cauda, adivinhe onde? Em sua boca - veja, na boca da tia, tá?! Pronto, ela ficou completamente traumatizada, já que não podia gritar nem se mover. É só ouvir o latido que ela abana a mãozinha pedindo socorro! Calma, tia, já vai... Uma amiga está traumatizada com homens. Diz que todos são iguais, nenhum presta, ou bebem demais ou de menos, não telefonam no dia seguinte, só querem saber de zoada etc. e tal. Também, vou te contar, tem gente que não tem critério. No curriculum dela constam aproximadamente oito namorados de estilos e comportamentos bem variados: passou do metaleiro - ainda existe essa expressão? - ao mauricinho, depois para o zen que pertencia a uma seita onde o nome de todos começava com "davaba". Não agüentou a paradeira e arrumou um músico, mas parece que este viajava demais, mesmo, de todas as formas. Depois veio um mitômano que dizia estudar direito, mas na verdade era ex-metalúrgico e trabalhava no ramo de telefonia móvel. E por aí afora... tem que ficar traumatizada mesmo. Ah, mas a preferida é minha vizinha, esta é hor concour! Pois é, ela tem um filhinho lindo, hoje com uns três aninhos. Moça exótica, sabe aquelas criaturas excêntricas, que não passam despercebidas? Então, a dita cuja é desse jeitinho. Dizem até que ela não nasceu, veio em uma nave para a Terra. Boazinha ela, bem intencionada, já fez trabalho voluntário e tudo. Mas eu percebo que o pessoal do prédio tem um misto de medo e curiosidade em relação a ela... os porteiros têm o maior respeito. Dizem que é legal. Levou empadinhas para todos no Natal e na passagem de ano ofereceu um pedacinho de chester para os funcionários que trabalharam naquela noite. Mas é meio brava, anda com um óculos preto enorme, estilo abelhão. Dia desses ouvi um "zumzumzum" em seu apê. Deve ter sido uma reuniãozinha informal, ela adora isso, já notei. Fiquei sabendo que o Seu Eclésio interfonou para lá pedindo para baixar o volume da voz, do som, e ela ficou fula da vida. Ele tentou de novo, disse que o síndico geral ameaçou multar. E ela, lá, firme, disse que caso fosse notificada, iria mastigar e engolir a multa. Ai, tenho medo! Depois as carolas do andar de cima me contaram a história da Catarina, nome fictício, não me atrevo a identificá-la, de jeito nenhum, Deus me livre! Parece que na época ela engravidou de um sujeito com quem não tinha tanta intimidade. Escapuliu. Coisas da vida. Ela passou a gravidez sozinha e nesse tempo o pai da criança conheceu uma chilena e mudou para Santiago de mala e cuia. Comentam que ela gosta dele até hoje. Não pode escutar o nome que chora. Gente, mas se ela nem o conhecia direito! Gostava?! Gostava nada! Ela ficou traumatizada! Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista.
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