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Opinião
16/02/2008 - 18h30
Ponderações pecaminosas
Dartagnan da Silva Zanela
 

A vida é lâmpada acesa: vidro e fogo. Vidro que com um sopro se faz; fogo que com um sopro se apaga.” - (Pe. Antônio Vieira)

Uma das situações mais comuns nos dias hodiernos nesta terra de desterrados é de simulacros de pessoas generosas. Pessoas que por gestos insignificantes, mas cobertos de ponta, crêem que mereceriam ser beatificadas pelas câmeras dos canais de televisão ou, pelo menos, pela lente da máquina fotográfica de algum jornal.

Faz-se o gesto de bondade simulada simplesmente para se posar de algo que, nem de longe, se é. E, obviamente, com as vistas voltadas para um possível bem que poderá obter com este seu fingimento.

Há, no ser humano, inúmeras nojeiras. Mas atitudes desta monta, realmente, é de vomitar.

E, neste ano de 2008 da Era de Nosso Senhor Jesus Cristo, será justamente um ano em que o fingimento irá tomar conta da alma do homo brasiliense. É ano de eleições nas republiquetas municipais, ano em que as pessoas empoçadas, e as que almejam ser, de poder secular, ficam mais sensíveis a toda e qualquer calamidade humana que, fora deste tempo eleitoreiro, não passaria de mais uma banalidade cotidiana.

Todavia, não falemos sobre a compra e venda de votos descarada que há em nossa pátria. Não falemos de compadrio e muito menos de troca de favores. Vamos pensar um pouco sobre o estado de espírito das pessoas que fazem isso.

Não estamos falando do miserável que vende o seu voto pelo pagamento de sua conta de luz, nem do homem que trocou sua pseudocidadania por alguns trocados para comprar comida e um bom tanto de cachaça. Nos referimos aos biltres que olham toda esta situação e falam nas rodas de happy hour com ar de superioridade olímpica: “que vergonha” ou, “isso é um absurdo”.

Ora meu caro, por isso é bom lembrar, por mais obvio que seja, que nós vivemos no Brasil e, por isso mesmo, lanço o desafio: quem nunca recorreu a um favor indevido, a uma facilidade, que atire a primeira cédula amarrada em uma pedra. E jogue pra cima para que caia na sua testa.

Chega a ser engraçado. Estamos sempre rodeados de pessoas imbuídas dos mais elevados e decantados valores cívicos, todas pessoas [supostamente] comprometidas com o bem comum. Mas, se assim o é, se somos assim tão bonzinhos, por que nossa sociedade é tão abjeta? Ou nós somos tão pios que vivemos acima dessa realidade, em uma atmosfera etérea, a observar toda canalhice como se fôssemos deuses de meia pataca?

Perdemos totalmente a consciência do pecado, dos nossos pecados. Essa é a grande alienação de nossa sociedade. Aliás, as pessoas cricas, digo, críticas, adoram xingar as outras de alienadas e são justamente estas que, no fundo, menos consciência têm do dolo de seus atos na ciranda do poder secular.

O princípio básico da alienação é justamente quando o indivíduo perde a sua identidade enquanto pessoa, quando esta desconhece a sua real condição no mundo e, por essa mesma razão, compreende patavina do que está a sua volta, do que faz parte o mundo.

No caso contemporâneo de nossa sociedade, o problema é um pouco mais grave. Além de se ver totalmente imersa em um abismo de incompreensão, esses indivíduos julgam-se como sendo detentores da verdade sobre a vida em sociedade e portadores do ungüento para todas as chagas sociais. Vêem apenas os males do mundo como se estes fossem apenas um reflexo invertido de sua benévola alma.

Isso, trocando por dorso, é alienação de si e do mundo, é o desconhecer de si e do mundo. É a total falta de consciência de sua condição de pecador, de ser incompleto e imperfeito.

Sei que a palavra pecado é praticamente vista com desdém pelos meios letrados e por boa parte dos (de)formadores de opinião. Mas, como sou politicamente incorretíssimo, pouco me importa o que esta caterva pensa ou deixa de pensar, pois creio ser muito mais importante para saúde mental e espiritual a procura pela verdade, por mais que ela me desagrade, do que o conforto da aceitação da média das opiniões de pessoas que se crêem esclarecidas.

E, neste ano, teremos aquele imenso festival de hipocrisia que, de tempos em tempos, toma conta de nossas cidades onde nos alienamos mais de nossa condição pecaminosa em nome de interesses momentâneos que satisfazem apenas a nossa cobiça e a nossa vaidade.

Mas, alguém realmente deseja algo mais do que isso para a sua cidade?


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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