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SEÇÃO
Crônicas
27/02/2008 - 17h17
A conta
Fábio de Lima
 

- O senhor quer mais uma cerveja?
- Quê?
- Eu perguntei se o senhor quer mais uma cerveja.
- Ah, tá. Não. Não, muito obrigado. Eu quero a conta, por favor.
- Claro. Já trago, senhor. Só um minuto.

João havia bebido sete cervejas. Sua intenção era se livrar dos problemas. Mas os problemas permaneciam na sua cabeça. Tudo estava mais presente do que nunca em suas lembranças. Além disso, estava com uma vontade louca de ir ao banheiro - precisava mijar de qualquer maneira. Antes pensou que aquela semana jamais deveria ter existido. Ele queria apagar tudo da memória. Alguém deveria ter lhe dito que viver não seria fácil. Mas ninguém nunca lhe disse.

- Sua conta, senhor.
- Quê?
- Eu estou lhe trazendo a conta.
- Ah, tá. Mas eu resolvi que não vou pagar.
- O que o senhor disse?
- Eu lhe disse que não vou pagar.
- O senhor está brincando?
- Não. Não estou.

João levantou-se da cadeira, com todo cuidado para não esbarrar na mesa e derrubar a cerveja do copo que ainda estava cheio. Sacou uma arma calibre 38. Segurou o revólver com a mão direita e com o braço todo esticado em direção ao garçom. Os olhos do garçom enxergaram a morte bem na sua frente. João lhe deu um tiro na testa. Depois, virou-se para a mesa, do seu lado esquerdo, e deu mais dois tiros num casal que olhava a cena assustado. João virou-se para o lado direito e atirou, também, numa jovem que gritava o nome de Deus.

- Segura ele!
- Filho da puta! O que você fez?!
- Meu Deus! Meu Deus!
- Louco!
- Assassino!

João foi jogado ao chão e insultado e agredido. Sua boca e seus olhos eram só silêncio.

- Assassino! Assassino! Assassino!
- Chamem uma ambulância!
- Chamem a polícia!
- Rápido! Rápido!
- Meu Deus! Meu Deus!

João sentiu uma quentura descendo pela virilha e ao olhar para baixo, percebeu seu mijo escorrer por entre as pernas. Pensou nos problemas que a vida lhe trouxe e que ele não soube lidar. Lembrou da infância e do dia que sonhou em ser palhaço de circo. Lembrou das dívidas, da ex-esposa, dos filhos, dos pais (já falecidos), do seu cachorro que havia fugido de casa no começo da semana. Então, entre os gritos de assassino e louco notou o barulho de uma sirene que se aproximava. No mesmo instante, uma lágrima lhe escorreu à face e João teve certeza que nunca deveria ter nascido.


Nota do Editor: Fábio de Lima é jornalista e escritor, ou "contador de histórias", como prefere ser chamado. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO, com publicação (ainda!) em data incerta.

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