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Opinião
28/02/2008 - 09h13
Da (in)dignidade do cidadão
Dartagnan da Silva Zanela
 

"Quem não luta pelos seus direitos não é digno deles.” - (Rui Barbosa)

Quando se fala em cidadania neste país ou me dá vontade de me esconder em baixo da minha cama ou de vomitar. E, como já é de costume, é bom lembrar que não estou aqui a me referir àquelas pessoas que se encontram espoliadas e desvalidas. Naninão. Estou me referindo a você e a mim, ditos cidadãos contribuintes, ditos cidadãos críticos, enfim, dito dos ditos mal escritos.

Basta que um grupelho de pessoas como nós se reúna que, mais do que depressa, começa a novena de lamúrias e queixumes sobre os escândalos de corrupção do Governo Federal, do Estado, do município onde residimos e blablablá. Tais panelinhas parecem mais com uma reunião de crianças que foram esquecidas na porta da escola do que um grupo de pessoas adultas cientes de suas responsabilidades.

Lá estão tomando o seu cafezinho, ou uma cuia de chimarrão, comentando: “Ei! Você viu o que o fulano fez?” e o outro: “Ah! Mas esse é cupincha de cicrano! Esse só está lá mamando”. E, pra piorar (e essas conversas sempre pioram), sempre tem aquele que conclui: “Mas é assim mesmo. Essa gente não presta mesmo”.

É mesmo? E você e eu, quanto valemos?

É patética a definição que se apresenta para nos nominar. Aquela que se refere a nossa pessoa como “cidadão contribuinte”. No entendimento de nossa cultura política patrimonialista é declarado cidadão qualquer otário que contribui compulsoriamente para manutenção do cretinismo institucionalizado.

Ora, cidadão não é aquele que simplesmente sustenta a esbórnia estatal com seus tributos compulsoriamente ofertados ao Estadossauro como se descreve convencionalmente. Cidadão é aquele que fiscaliza os gastos que são realizados com a grana entregue para as raposas felpudas que se encontram encasteladas perenemente nas entranhas do Leviatã brasiliense.

Todavia, para tanto, é necessária uma boa pitada de coragem e integridade moral, duas qualidades que se encontram minguadas nestas paragens ao sul do Equador. Somos literalmente uma nação órfã de si mesma. Somos um amontoado de pessoas desfibradas que tem como único horizonte o próprio umbigo que, por sua deixa, é um orifício grande demais para enterrar o nosso minguado caráter.

Adoramos falar da construção de uma sociedade melhor, de um mundo melhor, de flatulências utopicamente gestadas, desde que, obviamente, não tenhamos que repensar a nossa própria condição, a nossa maneira de agir e de viver em sociedade.

Condenamos todo o Estado Brasileiro de modo atávico, mas antes, como todo bom cidadão brasileiro, tiramos o nosso da reta. Preservamos a todo custo a nossa mediocridade, pois, sem ela, o que seríamos já que fugimos das responsabilidades cívicas de uma pessoa digna como o sassafrás foge da Cruz, não é mesmo?

E o angu fica pior quando o elemento fica indignado e decide fazer alguma coisa e, normalmente, a única perspectiva de ação que ele ventila é a de fundar um partido político, se candidatar e se tornar um novo cacique eleitoreiro, porém mais “honrado” que os que o antecederam, é claro. Ou então, tentar encontrar alguém que seja mais ou menos honesto pra ele poder votar e assim não ter que se preocupar com a administração pública. Um elemento, tipo assim, mais ou menos honesto na mesma proporção que ele é mais ou menos viril.

Perdoe a franqueza, mas sentimento cívico se edifica a partir da maneira como agimos em relação ao Poder Público, junto à sociedade e, principalmente, a partir de nossa seriedade. Ser cidadão é chamar para si a responsabilidade pela sua vida e pela vida de sua CIVITAS e não relegá-la a um representante afogado em sua boçalidade e alimentado pela nossa letargia existencial.

Independente da facção partidária, o que você faz por você, pelo seu bairro, pela sua cidade, pelo seu país? Que sacrifício você realiza em nome do espírito público. Qual é o bem comum que você julga ser fundamental?

Esqueça o que é da responsabilidade do Estado. Estou perguntado pra você. Fulano de Tal, qual é o bem comum que você prima e ajuda a edificar? Olha, não estamos falando de um bem material ou de um serviço prestado, mas sim, de algo que permite a manutenção e a permanência da sociedade tal qual ela é. E, mais uma vez, para lhes ser franco, a única coisa comum que todos nós zelamos é o desfibramento geral que permite a avacalhação total de uma sociedade que nunca foi séria, mas que, sabe fingir que é uma beleza.

Mas, no fim das contas, nem ligue para essas linhas. Afinal, que graça teria viver no Brasil se não existisse gente como nós? Que siga o circo, nem que o palhaço chore, visto que, o mais engraçado do Brasil é o cidadão brasileiro.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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