A cidade dourada
Quando aterrissei em Salamanca, em um dia ensolarado, realmente tive a certeza de que a cidade é dourada, devido ao efeito amarelado que a pedra Villamayor produz em seus prédios. Majestosa e ao mesmo tempo acolhedora e com encanto de cidade do interior, Salamanca vai além da história e da riqueza de sua arquitetura: nesta charmosa cidade espanhola pude aprender o genuíno idioma castelhano. Situada às margens do Rio Tormes, na Espanha, e com mais de 12 mil quilômetros quadrados de área, sua população ultrapassa 180 mil habitantes. Deste total, 40 mil são estudantes que, em sua maioria, vieram de outros países para a Universidade de Salamanca, a segunda instituição do país e uma das mais antigas da Europa. Fundada em 1218, pelo rei Afonso IX de Leon, com o título de Estudo Geral indicando a diversidade das disciplinas ensinadas e a condição de estabelecimento público, é hoje uma das universidades mais prestigiadas do continente europeu, atraindo estudantes de várias partes do mundo. Declarada Patrimônio da Humanidade, em 1988, e Capital Européia da Cultura, em 2002, Salamanca mantém a harmonia entre o novo e o velho. Abriga um centro histórico emoldurado por monumentos da Idade Média, Renascimento, Barroco e Classicismo. São algumas referências culturais da cidade as catedrais Vieja e Nueva, os palácios de La Salina, Anaya e Monterrey, a Casa das Conchas, o Convento das Dueñas, a Torre do Clavero e, ainda, os museus Diocesano e das Dueñas. Tanto a presença da universidade quanto a própria história de Salamanca me proporcionaram uma vida cultural que ultrapassou os limites dos museus e das salas de exposições. A cultura está em toda parte: da arquitetura aos inúmeros cafés e centros artísticos, tornando-se o complemento para turistas que visitam o local em busca de arte. Como toda cidade medieval, concentra os melhores restaurantes, bares, lojas e cafés em um único ponto: a Plaza Mayor, construída entre 1729 e 1755. Ali só se anda a pé, o que me permitiu descobrir as surpresas escondidas nas pequenas ruas que circundam o local. Para comprar lembranças artesanais, como as tradicionais castanholas, espadas ou xales coloridos, escolhi este roteiro, sempre respeitando a indispensável siesta dos espanhóis. Diariamente, o comércio pára suas atividades das 14h às 17h. Um costume ao qual me adaptei facilmente. Os salmantinos, assim como todos os europeus, adoram passar o tempo em cafeterias, mas para os discípulos de Baco há inúmeros bares. É só entrar e pedir uma bebida que os tradicionais tapas, típicos antepastos espanhóis, são por conta da casa. É possível escolher entre embutidos, como o famoso jamón (presunto cru), peixes ou frutos do mar. Um verdadeiro festim gastronômico. Quando a noite cai, o cenário fica ainda mais incrível. É que a pedra de Villamayor, conhecida por arenisca ou franca, ganha um brilho especial também na escuridão. A impressão é de sonhar acordada. Mesmo durante a madrugada, as ruas continuam cheias de vida, sobretudo no verão. Uma cidade fascinante e sem sono. Convite perfeito para emendar o passeio em uma balada. Com tantas opções ecléticas, vale a pena fazer uma excursão para admirar a decoração dos pubs e discotecas. Eu costumava ir ao bairro Zona Varillas, mais alternativo, para ouvir música inglesa e americana. No verão, pude acompanhar os lançamentos que fazem sucesso durante esta estação, além das músicas espanholas. Como a maioria dos turistas, estudantes e salmantinos, às vezes, concentrava-me com os meus amigos, na Zona Bordadores, Há também a Zona Centro, que oferece eventos culturais durante todo o ano: exposições, música ao vivo e grupos de teatro. E quando saía da balada, ao amanhecer, a cidade ainda brilhava como ouro. Seja sob os primeiros ou últimos raios do sol, contemplar a Plaza Mayor, a Catedral Vieja, a Casa das Conchas ou simplesmente passear por qualquer canto da Zona Antiga, é ter a certeza de que Salamanca, cada vez mais dourada e cosmopolita, melhora a cada ano. Nota do Editor: Márcia Sugahara é gerente do STB Sorocaba. Tem vasto currículo em viagens internacionais e viveu por um ano em Salamanca.
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