Enquanto você não vem, decidi cuidar de mim. Esperar sentada é acumular frustrações a cada expectativa desfeita. Contar as horas é um exercício torturante, para quem aguarda. Não aboli os passatempos, mas entre uma distração e outra, há espaço para a ausência se instalar. Por isso optei por olhar para mim e cuidar da minha realidade. Sou alguém sem você. Alguém que pensa, sofre, ri, lê, aprende e cresce. Descobri que a realidade está aqui, ainda que você não esteja. Meu mundo é real e tudo a minha volta existe, apesar de você. Tenho fantasmas a enterrar, dores a curar, vida a viver. Pensar apenas em você não sanará minhas dores. Sou eu quem tem que tratá-las, ou pelo menos tentar. Preciso encarar meus medos e abrir minhas chagas, se tiver coragem de fazê-los, pois a coragem nem sempre se encontra em mim. Tenho que ganhar a vida, tenho que tratar meu corpo afetuosamente, tenho que alimentar meu espírito. Por isso, recebo o carinho do sol no meu corpo quando caminho na praia olhando o mar e o horizonte. É a minha visão do mar e não preciso de você para isso. Leio meus livros com prazer e esses, como todos os deleites que disponho, são meus e não dependem de você. As músicas que ouço lembram você, mas o gozo que agracia meus sentidos é meu. A conversa com amigos, as risadas, os abraços e o calor da minha família também podem ser vivenciados por mim com alegria, apesar de sua ausência. O pranto da saudade ou de dor é a minha maneira de desafogar o peito quando comprimido pela dor. As linhas que escrevo põem em ordem minha bagunça emocional. E cuido de mim, assim, enquanto você não vem. Quando você chegar estarei bem, graças à minha decisão e a Deus. Partilharei com você todos os momentos vividos e serei melhor para você. Se você não vier, vou sofrer, mas estarei íntegra, pois não deixei uma parte da vida à mercê de você. A memória dos nossos momentos está aqui e é parte de mim. Nota do Editor: Evelyne Furtado é jornalista, poetisa e cronista em Natal (RN).
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