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Opinião
07/03/2008 - 16h19
Esse terrível Shakespeare
Percival Puggina - MSM
 

Na peça Noite de Reis, de William Shakespeare, a heroína Viola afirma odiar a ingratidão mais do que a mentira, a vaidade, a tagarelice, a embriaguez ou "qualquer outro vício que habita a frágil natureza humana". Lembrei-me dessas palavras ante o discurso do presidente Lula na inauguração de uma fábrica de pneus da Michelin no Rio de Janeiro, no último dia 26. Olhei para a imagem do presidente na tevê, repassei a lista de vícios que o dramaturgo inglês selecionou para amaldiçoar, percebi as coincidências, mas fixei-me na ingratidão.

A íntegra do pronunciamento a que me refiro está disponível no site www.info.planalto.gov.br. Nele, o presidente enfocou o fato de o saldo de divisas do país se haver tornado superior ao montante da dívida externa. E assumiu como coisa sua haver preparado o Brasil para esse "segundo grito de liberdade", posto que, apesar da proclamação de 1822 "era como se até agora o Brasil não tivesse independência". Recordou o aperto fiscal de 2003, duvidando de que outro presidente "tivesse a coragem de fazer o que ele fez naquele ano". E arrematou: "O FMI tinha US$ 15,9 bilhões de dólares depositados na conta do Brasil, como uma espada na cabeça do governo, mas em 2005 dissemos ao FMI: não precisamos mais de vocês".

Isso é ingratidão. O FMI não mandava um gerente de contas ao Brasil, toda segunda-feira de manhã, oferecer empréstimo, seguro de vida e plano de capitalização. Era o Brasil que, em momentos de dificuldade de caixa ou com a moeda sob ataques especulativos, recorria ao bem-vindo socorro financeiro, para uso imediato ou para lastro, como meio de garantir a normalidade da vida nacional. Era um dinheiro barato (tão barato que Lula, quando tivemos condições, preferiu pagar a verba para soltar o verbo). As "terríveis exigências" do FMI se referiam, exatamente, ao ajuste fiscal. Ao mesmo ajuste fiscal que Lula e o PT combatiam quando aplicado por seus antecessores e que ele próprio, no mesmo discurso, confessa haver levado ao grau máximo no ano de 2003.

Não estou pedindo que o presidente deixe de fazer discurso, nem de torcer os fatos, nem de se auto-elogiar, ou que passe a agir com moderação (aí estou eu na lista de Shakespeare outra vez). Quero apenas mostrar que nem todos seus ouvintes e leitores são paspalhões desmemoriados. Tem gente que sabe: nada daquilo de que o presidente se ufana teria acontecido se o Brasil, como ele, seu partido, a CNBB e o escambau tanto cobraram, tivesse declarado moratória e se recusado a produzir o tal "aperto fiscal". Aperto fiscal que, antes, era "pagar a dívida com o sangue do povo" e, hoje, evidência da indômita coragem do presidente.

Por fim, desde que deixou a Villares, por lesão no dedo, não consta que Lula tenha contribuído para a pauta de exportações brasileira ou para a geração do multibilionário saldo da nossa balança comercial. Não era ele que chamava esse tipo de coisa de "globalização neoliberal", causa de miséria e submissão?


Nota do Editor: Percival Puggina (www.puggina.org) é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.

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