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Opinião
09/03/2008 - 13h18
Entendendo o Estado Total
José Nivaldo Cordeiro - Parlata
 

Podemos listar pelo menos cinco visões alternativas sobre o Estado. A primeira e a mais antiga, consagrada pela tradição, é a que vem da linha greco-cristã, que estabelece a tríade razão, legalidade e ordem (logos/nomos/taxis) para conduzir os negócios do Estado. E esta, por sua vez, substituiu a antiguíssima visão mitológica do Estado, a luta sem trégua entre o caos original (Beemoth) e o Leviatã. A visão greco-cristã deu ao Estado a racionalidade que perdura, de uma forma ou de outra, até os nossos dias, fundamentando seu caráter jurídico. Desde Platão aceitou-se que o poder não é um fim em si mesmo, mas deve ser regulado pelo princípio de Justiça, a fim de alcançar o bem-comum. Há, por assim dizer, um fundamento teológico (ou metafísico) do poder, cabendo aos estadistas ter compreensão desse princípio para bem realizar o seu mister.

A visão greco-cristã é adequada e aplicável a quaisquer das formas de governo conhecidas, o que demonstra a sua verdade permanente e universal, sendo ela talvez a maior conquista da ciência política de todos os tempos. Esse objetivo de alcançar a Justiça como forma de se chegar ao bem-comum foi aquele de todos os governantes ocidentais até o surgimento de Maquiavel, que deu forma ao Renascimento refazendo o cerne da ciência política. Desde então o mundo mudou de forma célere. As razões de Estado substituíram o nobre objetivo antes perseguido pelos governantes. A conquista e a manutenção do poder passaram a ser o norte dos novos príncipes.

Uma nova forma foi divisada por Lincoln, no famoso Discurso de Gettysburg. Recordemos:

"Cumpre-nos, antes, a nós os vivos, dedicarmo-nos hoje à obra inacabada até este ponto tão insignemente adiantada pelos que aqui combateram. Antes, cumpre-nos a nós os presentes, dedicarmo-nos à importante tarefa que temos pela frente - que estes mortos veneráveis nos inspirem maior devoção à causa pela qual deram a última medida transbordante de devoção - que todos nós aqui presentes solenemente admitamos que esses homens não morreram em vão, que esta Nação com a graça de Deus venha gerar uma nova Liberdade, e que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desaparecerá da face da terra".

Lincoln aqui explicita um dos ângulos mais essenciais dessa mudança de perspectiva, arrancando qualquer elemento metafísico da representação política. O povo, as massas, é que passaram a ser o juiz e a motivação dos governantes, quebrando completamente a hierarquia natural das coisas. O maior curva-se miseravelmente ao menor, a cabeça passou a ser conduzida pelas patas. É a Ação Direta com outro nome, a massa assumindo o papel de legislador. Em todos os tempos o povo foi estúpido e reconhecia numa minoria nobre a condição de governante e esta, por sua vez, buscava nos filósofos e nos teólogos o aprendizado da arte de bem governar. Com Lincoln, ecoando os novos tempos da Revolução Francesa e das novas teorias do direito natural, vemos o reboar das massas em movimento, a subversão de toda a hierarquia natural que só poderia levar aonde levou: ao tenebroso século XX.

Já Mussolini, o homem-massa alçado diretamente ao poder (como Hitler e Lula), em um discurso datado de 1928 fez a sua famosa declaração: "Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado". O Estado é a expressão da massa, a unidade da turba desconectada de qualquer valor. É o apogeu do populismo e a expulsão da razão enquanto luz para gerenciar os negócios do Estado. Claro que uma distorção da realidade da alma dessa envergadura só poderia levar ao desastre mais completo. Mussolini e Hitler morreram violentamente porque esse é o destino do homem-massa que se liberou de qualquer liderança sensata e quis ele mesmo ser o príncipe.

Já Lenin, em "O Estado e a Revolução", definia: "A ditadura do proletariado é a dominação não restringida pela lei e baseada na força". O poder sem qualquer limite e sem nenhuma regra moral. É Maquiavel na plenitude. É a teratologia política aplicada, que deu no que deu: nos cem milhões de mortos contabilizados na macabra epopéia dos partidos comunistas em menos de um século.

Compreender a ciência política nos seus termos corretos é uma necessidade prática, não uma necessidade meramente teórica. Não é diletantismo de eruditos. É vacina contra o vírus do totalitarismo, que imuniza preventivamente contra os males do genocídio. A ciência política virou um conhecimento essencial para ação das pessoas sensatas nos tempos de hoje. A desordem do Estado é o reflexo da desordem da alma individual.

Eu deveria ter escrito como epígrafe os versos terríveis de Walt Whitman, o profeta dos novos tempos, que vão aqui à guisa de nota de rodapé:

"Rufai, rufai, tambores! Soai, clarins, soai!

Sem parlamentos, sem discutir com ninguém,

Sem preocupações com o tímido - nem com aquele que chora ou reza,

Sem preocupação com a súplica do ancião ao jovem,

Calai as vozes das crianças, calai os rogos das mães,

Agitai os mortos nos seus caixões enquanto aguardam a carroça fúnebre,

Batei com força, ó terríveis tambores, soai alto, clarins".


Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro (www.nivaldocordeiro.net) é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL - Associação Nacional de Livrarias.

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