Parecem ou são um conjunto de répteis, que se sentam à mesa para disputar sobras? Convidam-me a participar do reparto da merda. Tem de ficar claro que morro como vivi, porque existe o poder da razão, mas também existe a beleza.
Não é só: tanto vendes tanto vales. Convidam-me a me definir argumentando que a gente é má e não merece. Onde está? Que será, hoje, o divino? Perguntam-me como sobrevivo? Sobrevivendo falei, sobrevivendo. Tenho muitas memórias que me ferem. Eu não quero ser só, mas também não quero ser mal acompanhado. Reclamo pela palavra que não se pode falar. Hoje, a tristeza é a morte das pequenas coisas. As coisas simples, as devora o tempo. Ninguém mais entende que em 5 minutos a vida é eterna. Roubaram-nos a esperança. Calaram-nos a razão, nos castraram a utopia e escondem a emoção. Transformaram-nos em números. Silenciaram os nomes. Asfaltam as flores. Concretaram os homens. Não olhamos mais pela janela. Não temos vizinhos. Ocultaram a bússola. Traçaram-nos os caminhos. Ficamos quadrados como os limites de uma tela de TV. A modernidade é uma veloz corrida desesperada pela não sobrevivência. Colocam marcas no homem: negro, branco, índio, amarelo, sem ética, sem princípios, sem raízes morais, sem solidariedade humana. Os valores, hoje, são: o carro, o computador, a grife, o perfume, os óculos, o relógio... sem entender o valor do tempo. Perdem-se as letras. Já não temos mãos. Não sabemos olhar. Tiram-nos os brinquedos. Perdemos a emoção de receber uma carta. Desvestem-nos para tirar-nos a ilusão. O alimento é farto, mas não alimenta. Os templos gritam para não escutar. O desejo é cobiça. A mediocridade tem valor. A transgressão é norma. O senso comum fere. E nesse contesto, querem que sejamos eleitores. É bom não abusar da inocência do povo, ele permanece. Quando os satélites não te alcançam eu venho oferecer minha amizade. Ninguém pode falar que tudo está perdido. Ainda estamos juntos no mesmo caminho. As ondas ainda beijam o mar e levam e trazem nossas ilusões e molham os pés das crianças, como que procurando os caminhos. Conduzem suas alegrias para um futuro melhor e num canto da alma me dói o desencontro. Miguel Angel Ubatuba, SP
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