Era o dia do prefeito dar posse a dois novos secretários - de Educação e de Saúde - que se entrelaçam nas importâncias. Sem educação não há saúde e sem saúde não há como alguém absorver o pleno da educação. Não havia banda de música, não haveria show, nem de outro mágico, pois se tratava de uma cerimônia que não deveria durar mais de cinqüenta minutos. Trinta foram oficialmente convidados e vinte auto-convidados. Assim, meia centena de pessoas, o que é muita gente para um gabinete, se apinhavam, se ajeitavam e couberam todos, a imprensa na vanguarda. Contavam-se, entre os presentes, seis de nome Antônio, dois de nome Pedro, Fernando havia quatro, Elzi havia uma e Robério eram dois: um Robério jovem advogado prestimoso, vindo de outro cargo de confiança, bem querido pela administração e pelos administrados; e outro Robério dentista, "prestimoso" em vésperas de eleição, que migrou de outro grupo político, aderindo à administração e olhado com desconfiança pelos administrados! O primeiro tirou os óculos escuros para que fosse enxergado olho no olho. O segundo, talvez com receio de que enxergassem alguma sujeira no olho no olho, permaneceu em lugar pouco iluminado, de óculos escuros. O prefeito, como é de seu feitio, quis fazer surpresa. Além dele e dos que seriam secretários, mais ninguém, até àquela hora da cerimônia sabia os nomes de quem seriam secretários ou secretárias. O nome anunciado para a pasta de Educação não causou nenhuma grande surpresa, visto que a pedagoga Elzi Ivo Fernandes, competente na área, já havia ocupado o mesmo cargo em gestão anterior e sabe muito bem como pisar no território. Já o segundo secretário... Surpresa geral! O locutor, que também acabou demitido, anunciou: "O secretário de Saúde é o doutor Robério". Houve suspense. Entre um advogado e um dentista, qual destes o público presente diria que, naquele momento, assumiria como o secretário de Saúde? Fez-se um pequeno silêncio e ouviram-se alguns "não pode ser!" Enfim, o locutor completou o nome: "Robério Silvio Moraes Filho". Foi, então, um longo "Ah!". Não era o homem de roupa branca e óculos escuros, era o jovem advogado administrador! Afinal, para ser um bom secretário de Saúde não é necessário ser dentista e nem médico. Eles entendem de consultórios, anestesias, cirurgias, mas não são bons conhecedores das leis e direitos dos cidadãos. O secretário de Saúde médico, por exemplo, não sabe, plenamente, o que é "Tratamento Fora de Domicílio" (TFD). E, com todo respeito ao doutor Mariano, que deixou o cargo, até parece que prefere que um doente do coração (que solicitou o benefício e o teve negado) morra em nossa querida Guanambi, onde não há os recursos necessários para cirurgia cardiológica, nem para exames avançados. Isso ocorre, talvez, por se ter vontade que o incomodo cidadão morra, e o médico credenciado pela Polícia Técnica tenha o prazer de fazer a necropsia! Nota do Editor: Seu Pedro (seupedro@micks.com.br) é o jornalista Pedro Diedrichs, DRT-398/BA, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi Bahia... É jornalista investigativo, escritor, poeta, e adepto do humor. Também conhecido como "Jornalista do Sertão".
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