"Embarcaram na conquista de um sonho, mas só encontraram o pesadelo" - Alina Revuelta, filha de Fidel Castro Em abril de 2005, analisando as relações do poder em Cuba, escrevi o seguinte: "No caso cubano, embora boa parte da opinião pública mundial esteja inclinada a pensar que a ditadura cairá com a morte do seu provecto patrono, o dado real é que a liderança do sistema totalitário se preparou para permanecer incólume no poder da ilha-cárcere. A julgar pelos observadores do dia-a-dia do regime, tem-se como indiscutível no comando do ’primeiro território livre da América’, depois de décadas do mando despótico de ’El Comandante’, as presenças das mesmíssimas figuras que ora tomam o poder da infeliz nação, a saber: o compañero Raúl Castro, irmão de Fidel e chefe das Forças Armadas, além de vassalos como Carlos Lage, Ricardo Alarcón, Ramón Ventura etc., todos pertencentes à elite dirigente do regime e membros do PC Cubano". Passados três anos, não deu outra: no domingo 24 de fevereiro, seis dias depois da divulgação da carta de Fidel "renunciando" ao poder, a Assembléia Nacional confirmou o nome de Raúl Castro como o novo soberano da dinastia castrista, secundado, claro, pelas figuras já apontadas. No pronunciamento durante a sessão da Assembléia, tida como "acontecimento histórico", Raúl (conhecido como "El Chino") reverberou o óbvio, lançando um jato de água fria sobre as conjecturas otimistas da opinião pública mundial (e de boa parte da população cubana). Ele disse o seguinte: "Assumo a responsabilidade que me foi concedida com a convicção de que o comandante-em-chefe da Revolução Cubana é um só: Fidel, que, como todos nós sabemos, é insubstituível". Ademais, "Somente o Partido Comunista, garantia segura da unidade da nação cubana, pode ser o herdeiro digno da confiança depositada por seu povo em seu líder" – completou Raúl, dizendo ao mundo a que veio e a quem pertence (e pertencerá) o mando na ilha-cárcere. Logo em seguida, reafirmando que o rei não estava deposto nem fora do jogo do poder, o primeiro-irmão afirmou que "as decisões de maior importância para o futuro de Cuba, sobretudo as referidas à defesa, à política externa e ao desenvolvimento socioeconômico" só serão tomadas após consulta ao irmão Fidel. Que, por sua vez, como de praxe, continua como o primeiro-secretário do Partido Comunista que é, na ilha, quem rege a sociedade escravizada. Enquanto o "espetáculo da transição" toma conta do noticiário internacional, com milhares de especulações sobre o futuro da ilha, as mais contraditórias, boa parte do povo cubano permanece alheio à encenação farsesca – quem sabe considerando-a mais um golpe teatral manipulado por "El Comandante". Com efeito, nas ruas mofadas de Havana a pasmaceira não muda e a população sobrevive porcamente, em meio à carência geral: o salário desceu de 17 para 10 dólares, cresceu o racionamento de alimentos básicos (leite, arroz, grãos, ovos, óleo e até açúcar) e diminuiu a cota de vestuário nos "armazéns", enquanto aumentou a corrupção oficial, o mercado negro, o consumo da droga e a prostituição – prostituição que, segundo denúncia de agentes turísticos espanhóis, tem no governo cubano um dos seus principais beneficiários. Mas o pior na Cuba dos Castros não é o estado de miserabilidade imposta à população pelo regime socialista. O mais degradante é a repressão política conduzida pelos aparatos terroristas do regime - a DGI (Direción General de Inteligencia) e os Comitês de Defesa da Revolução -, que nulifica com prisão e tortura os seus dissidentes, considerados como "inimigos do regime" pela quadrilha revolucionária. Se o sujeito não for um perfeito imbecil coletivo, ignorante completo ou esquerdista fanático, logo se dará conta de que o castro-comunismo, sobretudo nos seus aspectos econômicos, fracassou por completo. Pois os dados estatísticos oficiais demonstram que Cuba, antes de Fidel, exportava e importava mais, produzia e consumia mais grãos e carne, tinha mais automóveis e melhores estradas, além de situar-se como a 4º maior renda per capita da América Latina (hoje reduzida a 29º posição). Sim, muito se estimam as conquistas sociais de "La Revolución". Mas, bem examinada a questão, as estatísticas dão a conhecer que, mesmo antes da ascensão de Fidel, Cuba já apresentava excepcionais índices de educação e saúde – para ficar apenas nos dois setores mais explorados pela máquina da propaganda comunista. Por exemplo: em 1957, em plena Era Batista, a ilha detinha os menores índices de mortalidade infantil da América Latina, sem falar nas altas taxas de alfabetização, em termos percentuais mais elevadas do que as do Brasil, Colômbia, Equador e Guatemala, entre outros países do continente. Na sua trajetória inspirada no "Catecismo Revolucionário" do fanático Sergei Netchaiev, um repositório doutrinário impresso em letras de sangue, o ditador cubano desde 1960 incorporou o papel de David lutando contra o gigante Golias, no caso, os Estados Unidos que, curiosamente, ajudaram-no na escalada contra o ditador Batista. De lá para cá, usando o "embargo norte-americano" (muito justo, por sinal) como bode expiatório para os fracassos de "La Revolución", Fidel nunca menciona que recebe dos EUA, em muitos casos a preços subsidiados, alimentos, remédios e material hospitalar. E também não fala, de propósito, no bilhão de dólares que entra na ilha anualmente, enviado pelos refugiados cubanos em Miami para os parentes que, desesperançados, curtem, cabisbaixos, a fome endêmica de Havana. Com a "renúncia" de Fidel, os aliados do regime dizem que o primeiro-irmão Raúl copiará o modelo do capitalismo de Estado implantado na China. Bem, só para concluir, por enquanto: uma coisa é o capital externo investir num país farto em riquezas naturais e de 1 bilhão e meio de habitantes, e outra, muito diferente, é investir numa ilhota de 11 milhões de pessoas, de consumo insignificante. Nota do Editor: Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.
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