O Deus oculto de nossas sociedades é o crescimento. Este Deus que se esconde é um Deus cruel: exige sacrifícios humanos. Hoje pesa sobre nós a maior angústia que jamais pesou sobre a humanidade no curso da sua história: a da sobrevivência do planeta e dos que o habitam. O perigo maior não é da guerra atômica, embora as grandes potências tenham acumulado, até agora, uma quantidade de explosivos nucleares para aniquilar 50 mil vezes a população total da terra, mas, o equilíbrio de forças as mantém na raia. A crise de energia é a crise do preço. Nenhum centro de decisão econômica ou política imaginou um só instante por em questão o modelo de crescimento. A única preocupação foi a de encontrar produtos ou técnicas para substituição do petróleo e caminharam para um sentimento de alívio, estabelecendo seus canteiros de obras para a construção de centrais atômicas. “Fomos lançados na corrida para criação de centrais atômicas o que não é uma solução a curto prazo, pois são necessários mais de 05 anos para construir uma unidade importante. Na hipótese mais otimista, daqui a 25 anos a energia nuclear poderá fornecer não mais que 1/3 da energia utilizada nos países mais desenvolvidos. O total de necessidades só será suprido dentro de 50 anos. Para atingir este resultado será preciso construir milhares de unidades nucleares. Se tais reatores duram no máximo 30 anos isto quer dizer que, para manter constante o mesmo parque será preciso construir durante 100 anos, 02 reatores por dia no mundo. Do ponto de vista econômico, é o dispêndio de 60% da renda mundial, em detrimento da satisfação de todas as outras necessidades humanas. Mais grave, ainda, é o fato de que tal aventura nuclear exigirá que se manipulem e transportem 15 mil toneladas de plutônio, sendo que uma bola de plutônio do tamanho de um melão seria suficiente, repartindo-se a radiação, de igual para igual, para aniquilar toda a humanidade”. (Cifras tiradas do relatório feito em Salzburgo, por Mesarovic e Pestel em nome do clube de Roma para vários chefes de Estado.) Geesaman, do laboratório Lawrence de Livernon (Universidade da Califórnia) afirma que é “realista considerar a possibilidade de um câncer para 10 mil partículas de plutônio, enquanto que um só contêiner quebrado liberaria uma quantidade suficiente de plutônio para dar origem a 44 mil cânceres”. Antes de assumirmos tamanho risco, não seria conveniente perguntar-nos, se nosso atual modelo de crescimento, injusto, não seria concebível um outro sistema, fundado num desperdício menor de energia? O comandante Cousteau declarava no Conselho da Europa: “Utilizar o oceano como uma lixeira nuclear é uma idiotice. Em 1959 eu estive na origem de uma iniciativa que tendia a impedir o depósito de detritos atômicos no mediterrâneo. Nossa ação teve êxito, desde então depositaram-se os detritos no Atlântico. Continuo convencido de que se trata de um perigo muito grave, e por causa de sua duração. Um erro de cálculos é irreparável para várias gerações, enquanto que outras poluições podem ter seus erros reparados. As medidas tomadas não são seguras. Os contêineres utilizados para os detritos radioativos, chegando ao fundo dos oceanos são esmagados sob pressão. Muitos foram fotografados abertos ou abrindo-se como ostras. A educação do público é a principal esperança contra a poluição. Um verdadeiro apelo a revolta é necessária. Que todos nos tornemos contestadores da poluição, e que nosso contesto de protesto seja ensurdecedor”. O problema essencial permanece: conceber um modelo de sociedade e um de crescimento que não sejam fundados em gastos tão loucos de energia e que se orientem, não para o aumento do lucro e do poder de alguns, mas para a promoção humana de todos. Em folheto divulgado pela Eletronuclear diz: “No caso específico do Rio de Janeiro, Angra I e II respondem por quase 60% da energia elétrica do Estado...” Com Angra III o porcentual atingiria 80% do abastecimento. Depois de sucessivos adiamentos da decisão de retomar as obras de Angra III, e prevendo um prazo de que a usina entre em operação no ano 2014. Já foram gastos em suprimentos importados 750 milhões de dólares, fora os gastos que não sei quais são para fazer a instalação na rocha onde será assentada a usina, que foi devidamente escalada. A previsão de que a usina ficará pronta daqui a uns 07 anos originando 20 milhões de dólares por ano, para a manutenção dos equipamentos comprados. O que significa o total de 140 milhões de dólares somados aos 750 milhões de dólares investidos, estamos frente a uma cifra de quase 2 bilhões de reais. Tudo por um aumento de apenas 20% da energia para o Estado do Rio de Janeiro. O humanismo político é mutilado e do começo, impotente, se não reconhece a transcendência do homem como uma dimensão primeira e fundamental. O objetivo deste artigo é estimular a reflexão de todos e mostrar a necessidade e a urgência da tomada de consciência para operar profunda e necessária mudança. Ainda é tempo de viver. Sofremos por viver em um mundo sem finalidades. Crescimento para que? Crescimento para quem? Para os lucros de alguns por meio da manipulação e do condicionamento de todos. No atual contesto o crescimento econômico não supera as crises: dá-lhes origem. É uma economia desviada pela acumulação do ter, em detrimento da riqueza do ser, de dar expansão a vida. Miguel Angel Ubatuba, SP. magubax@hotmail.com
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