Folheava a revista de surf como sempre fazia logo que comprava para ver quais as novidades e as fotos mais impressionantes. Quando de repente meus olhos pararam hipnotizados em um drop na remada e de costas para onda em Waimea Bay, muito grande. Era uma garota franzina, mas com certeza de muita atitude. Procurei pela legenda e vi o nome, da até então desconhecida Maya Gabeira, que tinha apenas dezoito anos. Maya é filha de um dos políticos mais polêmicos do Brasil, Fernando Gabeira, e ela com certeza herdou a coragem e atitudes do pai para enfrentar as mais difíceis situações. Aos 14 anos decidiu deixar o balé clássico para se aventurar nas ondas, e se tornar uma viciada em adrenalina. No mesmo ano em que fez o imenso drop em Waimea, ganhou o prêmio de melhor performance feminina no Hawaii. Passou boa parte deste e dos anos seguintes explorando as ondas da Indonésia, pegando altos tubos em picos como G-land e Mentawaii; e finalmente decidiu dedicar-se com afinco ao surf de ondas grandes. Entrou para o time da Red Bull e ciceroneada pelo campeão mundial de ondas grandes Carlos Burle. Escreveu seu nome na história como a primeira mulher a se atirar em ondas imensas no tow-in, em locais de extremo perigo como na mandíbula de Pea’hi (Jaws), Maverick’s (este inclusive na remada), em Teahupoo, que como ela mesma disse, participando de um show de horror, com vacas insanas, que amedrontariam muitos marmanjos. Uma, em especial, chamou a atenção do mundo inteiro. A esquerda tinha uns 15 pés, com aquele lip double over head que só Teahupoo tem. A garota rebocada por Burle colocou para baixo, encaixou no trilho, mas foi sugada pela onda sendo arremessada com o lip direto na bancada. Há alguns anos, Richard Lovett, ex-top 45, passou pela mesma situação, e ralou-se dos pés a cabeça. Alguns disseram que ele teve sorte. Neco Padaratz também ficou submerso por um bom tempo e só foi salvo pelo jet devido ao seu capacete verde. Ficou traumatizado e abandonou a etapa de Teahupoo por dois anos... Sabe o que aconteceu com a Maya? Após rodar no liquidificador de Teahupoo foi resgatada ilesa por Laird Hamilton e Raimana Van Bastoler. Foi para o barco recobrar o fôlego e algum tempo depois já estava arriscando o pescoço novamente nas assassinas ondas da bancada mais perigosa do mundo. Em Ghost Trees, um pico que só a foto me faz tremer, com toda a cautela, Maya, mesmo sabendo que naquele pico pouco tempo antes havia morrido o local Peter David, de 45 anos e um dos desbravadores de Maverick’s, junto com Jeff Clark, ela se atirou dropando uma onda e escrevendo seu nome em mais uma onda feita apenas para os imortais do surf. Como ela mesma disse, para chegar aonde chegou teve que fazer muitos sacrifícios, como viver longe da família, amigos e inclusive da possibilidade de arranjar um namorado. Também, quem seria o louco de ficar na areia rezando pela sua vida? Em mares onde muitos hombres têm náuseas só de ouvir falar, a bailarina das ondas vai escrevendo seu nome com muita coragem, beleza, harmonia e respeito ao oceano. Seria ela Nórdica, Asteca ou Inca? Não, ela é simplesmente uma deusa Maya! Nota do Editor: Fabrício Meneses Fernandes tem 36 anos e é formado em Turismo, pós graduado em Metodologia do ensino superior, e Inglês. É professor, diretor de Marketing da Fag Informática e colaborador dos sites Waves.Terra, Fama Assessoria, Surf Bahia e do jornal Taking Surf.
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