As coisas que cercam o dia-a-dia do ser humano passam por uma série de mudanças bruscas e violentas. A revolução tecnocientífica é a causa dessas mudanças contínuas. Ela ultrapassou todas as fronteiras, tanto em países desenvolvidos como nos em desenvolvimento. Vivemos, hoje, em uma verdadeira "aldeia global". Tudo o que o ser humano realiza torna-se, automaticamente, objeto do conhecimento de todos. Tudo isso acarreta mudanças cruciais, na sociedade. A revolução tecnocientífica traz uma gama de novos problemas, cujas respostas todos aguardam ansiosamente. O futuro do ser humano depende do rumo que ele imprima a essa revolução. O pior é que os valores tradicionais são seriamente questionados, ou anulados, o que é um motivo de preocupação e inquietude em relação ao futuro. - O que nos reserva o futuro, na perspectiva da inovação e mudanças ininterruptas? - Como seremos atingidos, direta ou indiretamente, pela força da máquina? - Está o ser humano em perigo, diante de tantos desafios? O futuro, certo ou incerto, está na dependência do curso que a tecnologia vier tomar. O filósofo francês Voltaire (1694-1778) escreveu uma novela chamada "Micromegas". Micromegas era um extraterrestre, que ao chegar na Terra, se encontrou com os habitantes e lhes fez várias perguntas: - Qual é a distância entre a Constelação de Perros e a Estrela dos Gêmeos? - Quantos diâmetros terrestres cabem entre a Terra e a Lua? - Quando pesa o volume de ar, em comparação com o mesmo volume de água pura e o ouro? O extraterrestre ficou surpreso com toda a erudição e precisão das respostas dos terrestres e falou: - Já que sabem tão bem o que existe fora de vocês, saberão melhor, sem dúvida, o que há dentro de vocês. Digam-me, o que é a alma e como se formam suas idéias? Os sábios da Terra responderam com tamanhas contradições e seus argumentos eram tão inconvenientes, que o extraterrestre ria ao escutá-los. Voltaire, com seu tom satírico, expôs desta maneira o atraso da Ciência do homem com relação à Ciência da Natureza. O ser humano conseguiu desvendar da Natureza muitos segredos, mas, ainda esperam solução, de forma angustiante e contundente, os problemas sócio-político-econômicos do mundo. A revolução tecnocientífica levou ao ser humano, forças e possibilidades sem paralelos na história de sua evolução, para transformar todos os aspectos de sua vida. Mas, tais forças e possibilidades podem constituir-se em ameaças ao próprio ser humano, se ele não for hábil, no controle delas. Então, estas conseqüências poderão ser desastrosas e fatais. A Anarquia produtiva do Sistema está levando o mundo inteiro a se tornar uma verdadeira megalópoles, provocando uma grande congestão urbana. E o fenômeno da urbanização, cada vez mais crescente, origina a desestabilização humana, como, por exemplo, nos últimos cem anos, os Estados Unidos passaram de Nação agrária à metropolitana. Hoje, mais de 90 por cento da população reside na área metropolitana, o mesmo acontecendo no Japão e vários outros países europeus. Mas, o mais portentoso fenômeno de urbanização se processa nos países subdesenvolvidos, onde mora a maioria da população faminta. O fato incontestável é que o mundo está se tornando "cidade". O nosso homem do campo é seduzido pelas cidades, frente a fome ou a sua expulsão de sua terra com os bolsos vazios. Mas, ao se enfrentar com aquilo que o seduziu, vê que não é para ele e tem que empreender uma luta, irado, revoltado, de volta à terra que tem de conquistar novamente, já que fora expulso dela. O que vemos, hoje, como criminalidade, marginalidade e abandono nas grandes cidades são organizações incipientes de uma sociedade humana desagregada do Sistema, o que originará uma revolução. Quando um cidadão é anônimo, produto da própria anarquia econômica, a perda da auto-identidade é o desaparecimento do "eu". Desempenha, hoje, um papel de suma importância para se preocupar com a cultura de massa desta civilização tecnológica. O anonimato significa para muitos, a oportunidade de se desvencilharem de certos códigos tradicionais de conduta e de certos tabus e preconceitos morais. Não resta a menor dúvida, a solidão, o tédio, a monotonia e o vazio interior são um grave problema, gerado, em grande parte pelo anárquico desenvolvimento tecnológico. O ser humano não vê prazer no trabalho. Vê somente o dinheiro que ele proporciona. Miguel Angel Ubatuba, SP magubax@hotmail.com
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