Contos da Mula Manca
A mula ao invés de mancar vai ganhar asas, ou melhor, gás. É que depois de ter voado de praticamente tudo na minha vida, todos os tipos de helicóptero, de monomotor a jatinhos e grandes jatos, sério, eu só escapei, e mesmo assim por pouco, de andar de vassoura, vou encarar meu primeiro vôo de balão. E quem conhece diz que a visão que terei debaixo é uma das coisas mais impressionantes do mundo, a Capadócia, centro da Turquia e terra natal de São Jorge. "Jorge é da Capadócia", cantava aquele xará, Ben para os mais antigos e Benjor para quem pegou a fase, agora também já perdida nos anos em que ele foi revisitado pela numerologia. Com ou sem Jorge, a simples idéia de botar o pé na estrada já é fascinante, só falta levar o corpinho, a cabeça já foi e ainda não carregou saudade, isso deixo para a volta. Essa sensação de fugir de casa a bordo de minhas botas novas, impermeáveis, modelo exportação que comprei em uma ponta de estoque é das melhores da vida. Coração leve e tranqüilo, a terra a meus pés de gata de botas - e dessa vez vai ser verdade, do alto do balão - um dinheirinho no bolso e bem pouca bagagem, de mala sem alça eu me basto, mundão velho, sem porteira, aqui vou eu. No domingo (iupiiii!!!!!) embarco para Londres, cidade que já pude chamar de minha durante alguns meses há alguns anos. Serão apenas alguns poucos dias em uma velha conhecida amada para rever inclusive o primeiro amigo, que se mandou para lá em grande estilo. De lá Istambul, que como o outro Jorge, também mudou de nome, já foi Constantinopla e Bizâncio, e depois a Capadócia, que tem uma incrível formação vulcânica e foi palco de várias civilizações, inclusive de cristãos perseguidos, mas essa erudição toda vou gastar na volta. Meus amados e escassos leitores vão ficar livres de mim por duas semanas, fazer o que, alegria de pobre dura pouco. Mas alguma coisa acontece, principalmente na hora do regresso que também é coisa de muita alegria. Casa, como sabemos, dá dois prazeres, quando fugimos dela e depois quando voltamos. E eu espero, sinceramente, que em 15 dias de ausência nem todo mundo acabe se esquecendo de mim. Até lá! Nota do Editor: Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra. É autora do livro "Os florais perversos de Madame de Sade" (Editora Rocco).
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