Queria escrever outro artigo... Tirar o não do título desse texto... Conseguir dizer com todas as letras que no Brasil a Educação é prioridade para todos... Mas, infelizmente, as afirmações quanto à relevância da Educação constituem, na maioria dos casos, apenas discurso, palavras soltas jogadas ao vento, sem que as pessoas que as proferem tenham realmente assumido o compromisso verdadeiro de fazer a sua afirmação se tornar realidade. O descompromisso não é, felizmente, de todos. Há pessoas, em bom número, que realmente devotam o seu trabalho para a construção de uma Educação de qualidade. São professores, diretores, orientadores, coordenadores, funcionários do setor administrativo, estudantes, membros da comunidade, jornalistas e até alguns políticos (como é o caso notório do senador Christovam Buarque) que não apenas falam bonito. As pessoas engajadas lutam contra inúmeras adversidades: cansaço, problemas do cotidiano, descrença generalizada, falta de estrutura, desvio de verbas, a incompreensão do valor real da Educação para o futuro de nossas crianças e do próprio país. Esses batalhadores não apenas sonham com qualidade no trabalho educacional. Também correm atrás do prejuízo dentro de suas próprias escolas, ou fora delas, auxiliando projetos alheios, socializando suas práticas e conhecimentos, estudando para conhecer mais e aperfeiçoar suas aulas, lendo o mundo com a constância e a inteligência necessárias para perceber suas mudanças e buscando a estruturação de aulas que sejam mais estimulantes e atraentes aos olhos dos estudantes. E é possível atingir o sonho da Educação de qualidade? Claro que é. Há exemplos brotando em unidades escolares de todo país. Li artigo publicado recentemente pela revista "Veja" sobre um projeto educacional que está sendo desenvolvido em 33 escolas de ensino médio de Pernambuco. De acordo com a reportagem, essas escolas há três anos tinham rendimento equivalente ao de todo o Estado e região Nordeste, ou seja, nas avaliações oficiais aplicadas pelo MEC a média dos estudantes era equivalente a zero em Matemática e a 1 ou 2 em Português. Passados apenas três anos de um choque de gestão, com a incorporação de práticas de gerenciamento nos moldes da iniciativa privada, a nota dos alunos subiu para 6 (seis), tanto em Matemática quanto em Geografia. Mais do que isso, eles estão se sentindo mais estimulados para estudar e tentar até mesmo ingressar em universidades. O que foi feito? Basicamente passou-se a cobrar dos profissionais que trabalham nessas escolas que os resultados fossem melhorados, exatamente como acontece em empresas privadas. Os professores começaram a ser avaliados quanto ao seu trabalho por alunos, pais, diretor da unidade e também a partir das metas propostas. A essas escolas foram direcionados educadores selecionados pelo engajamento, disposição, estudo, resultados apresentados em outras escolas, ou seja, pelos méritos ao longo da carreira. Esses professores são aqueles que não ficam apenas reclamando dos salários, das condições inadequadas de trabalho, da falta de recursos ou ainda que ficam tricotando, vendendo produtos de beleza, falando mal dos alunos, colocando a culpa nas famílias, nos políticos, na direção da escola. São educadores que se dispõem a participar de cursos de atualização, escutar outros profissionais, anotar dicas e sugestões, acompanhar pela Internet ou por jornais e revistas as novidades de sua área de atuação, modificar práticas que não deram certo e utilizar as novas tecnologias (quando disponíveis), sem abandonar recursos tradicionais que geram bons resultados. Esses constituem um grupo de abnegados guerreiros em busca do cálice sagrado da Educação de qualidade. Para um enorme contingente de pessoas, a Educação é, infelizmente, prioridade apenas da boca para fora. Políticos sobem em palanques (e fiquem muito atentos, pois estamos em ano de eleições municipais) e falam em Educação como se fossem criar a melhor escola do mundo em suas cidades ou estados. Pais dizem saber do valor da Educação, porém não se preocupam em acompanhar a vida escolar dos filhos - verificando tarefas, indo a reuniões, conhecendo os professores, cobrando mudanças quando necessário, orientando e disciplinando seus filhos -, deixando-os à própria sorte. Diretores, coordenadores e orientadores ficam presos ao cotidiano e à burocracia, de tal forma que não conseguem nem mesmo perceber ou providenciar mudanças quando necessário em suas próprias escolas. Professores, por sua vez, preocupados demais com o que lhes falta (materiais, salários mais elevados, benefícios), se imaginando já totalmente preparados para dar aulas (repetindo conceitos por anos a fio, sem criatividade ou disposição de mudar) e se recusando a aprender novas metodologias (práticas, conceitos, teorias, uso de tecnologias e recursos), ou ainda transferindo a responsabilidade para outros pelos problemas que ocorrem no dia-a-dia, demonstram também não considerar a Educação uma prioridade. Pais atentos e participativos na vida escolar de seus filhos podem melhorar, e muito, os resultados pífios obtidos por suas crianças. É inadmissível que os alunos cheguem à 3ª ou à 4ª série sem saber ler ou escrever com um mínimo de exatidão e qualidade. Os pais têm que monitorar, cobrar, exigir que as escolas dêem aos seus filhos aulas de bom nível. Políticos que não cumprem o que prometem não podem ser reeleitos. Chega de discurso. Avaliem o currículo dos candidatos e vejam se realmente há vínculo com a melhoria da qualidade da Educação no país. Se já foram eleitos, verifiquem o que já fizeram pelas escolas de sua cidade. Se ainda não foram, vejam se têm como praxe trabalhar em prol da comunidade ou se esse compromisso com a população é apenas eleitoreiro. Professores que não estudam e deixam de se atualizar não podem dar aulas de qualidade. Cobrar salários mais altos sem prover os alunos com boas aulas é inaceitável. Penso que ao realizarmos bons projetos e um trabalho consistente poderemos reclamar tais benesses com propriedade e direito de causa (os professores que foram encaminhados para as 33 escolas estaduais de Pernambuco mencionadas nesse texto tiveram aumento de salário e têm direito a bônus em seus pagamentos pelas metas atingidas). Precisamos de ação. De gente realmente engajada. De menos discurso e mais ação. Educação deve ser prioridade no discurso e na prática de todos. Para cada criança desse país. Pelo futuro dessa nação. Nota do Editor: João Luís Almeida Machado é Editor do Portal Planeta Educação, Mestre em Educação, Arte e História da Cultura, Professor universitário e Pesquisador.
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