Repensar as expectativas da educação é pensar em sustentabilidade
Existe uma espécie de consenso sobre a importância da educação para promovermos melhorias na situação sócio-econômica brasileira. Apesar disso, acredito existir uma profunda carência na educação no sentido de trabalhar de forma mais profunda certos aspectos da realidade humana. Extrapolar a visão da educação enquanto ferramenta para desenvolver habilidades profissionais e técnicas e perceber a sua relevância na formação do caráter do indivíduo. O processo educativo de valor perpassa a relação entre as pessoas, a relação do indivíduo com o meio e tudo o que o cerca. Por que não estudar aspectos como respeito, amizade, amor, cooperação, tolerância dentro da sala de aula? Por que não trazer esse questionamento para a base da aprendizagem? Por que não enxergar que é muito mais fácil trabalhar e reforçar esses conceitos na mais tenra idade do que deixar que as sementes da revolta, do medo e caos que circundam o mundo contemporâneo criem raízes e tornem-se mais um ponto crítico no cenário do país? Repensar as expectativas da educação é pensar na sustentabilidade da nossa sociedade como um todo. Por mais eficazes e engajados que possam ser os programas e iniciativas sociais que se desenvolvam, somente uma visão estruturada por uma base sólida dará constância aos mesmos. Quando se compreende que a solidariedade, a fraternidade, o amor, a paz, a cooperação são atributos que todos podemos desenvolver e fortalecer interiormente e, assim, expressá-los no nosso modus vivendi, nas nossas relações, fica clara a importância de trabalhar esses valores desde muito cedo, dentro da sala de aula. Existem muitas iniciativas sendo desenvolvidas que apontam nesta direção, felizmente. Tive a oportunidade recente de conhecer o programa Vive (Vivendo Valores na Educação), que é uma proposta de experienciar valores humanos na prática educacional, através de capacitações para educadores. São utilizadas diversas ferramentas pedagógicas, que têm como pano de fundo doze valores, que o programa elegeu como escopo, sendo trabalhados um a cada mês do ano. Aprendem educadores e educandos. Isto me fez questionar o modo como fomos e estamos sendo educados. Será que estamos educando nossas crianças para viver em um mundo multifacetado por desafios reais que extrapolam as competências técnicas, que exigem posturas e comportamentos cada vez mais éticos para usufruir de bem-estar e qualidade de vida efetivos? Será que não estamos deixando sucumbir os valores universais em nome de uma pretensa liberdade que mais e mais nos aprisiona? São inúmeros os questionamentos. Mas, proponho fazermos a lição de casa: repensar a nossa própria educação e a que estamos dando a nossos filhos, sobrinhos, tios, pais, avós, amigos... sim, porque todos estamos nos educando continuamente. A educação é um processo vivo, constante, do qual fazemos parte e pelo qual somos afetados. Que tal repensar essa educação e, sendo um pouco mais arrojados, imaginar que tipo de impacto uma educação recheada de boas práticas de convivência, de valores e qualidades positivas poderia causar em um mundo como hoje é o nosso? Vimos que há saídas criativas. Estamos cercados de possibilidades e elas esperam ávidas que lhes demos "consistência, profundidade, contorno, temperatura, função" (*) para prosseguir. (*) Trecho de As Coisas, de Caetano Veloso. Nota do Editor: Mozana Amorim é publicitária e educadora. Atua na ONG Brahma Kumaris coordenando atividades de comunicação e captação de recursos.
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