O que é o amor? O que faz com que as pessoas entrem nesse estado de doce doidice, de quase catatonia, não enxergando nada no mundo além do ser amado. Há uma corrente científica que diz que tudo não passa de química. Quando você encontra o par certo, que emite os feromônios capazes de ligar a máquina reprodutiva, desencadeia-se a loucura inebriante. Eu tenho certas reservas, é muito científico. Não imagino isso acontecendo com Vinicius de Moraes, que dizia não haver nada melhor na vida do que comer papos-de-anjo tendo ao lado a mulher amada. Como escrever coisa tão tocante motivado apenas pelos caprichos de células olfativas? Apesar da beleza da figura, não concordo totalmente com o poeta, questão de ordem, como dizem os políticos quando trabalham, uma vez por semana. Melhor comer a mulher amada tendo ao lado os papos-de-anjo e depois comer os papos-de-anjo junto com a mulher amada. Os biólogos dizem que os organismos multicelulares têm compulsão pela reprodução. É verdade, as meninas, como bem diz a música de Luiz Gonzaga, a partir de certa idade, só querem, só pensam em namorar. Antigamente os garotos começavam mais tarde, hoje estão iguais às meninas. A partir dos cinco anos, ficam noivos. É importante não confundir o verdadeiro amor com mera atração sexual. Esta acontece mediante um simples estímulo visual, pelo menos acontece com os homens, as mulheres parecem ser um pouco diferentes. A visão de uma mulher bonita seja na praia ou mesmo numa revista, com ou sem Photoshop, é capaz de perturbar um homem por algum tempo. Na maior parte dos casos, cessado o estímulo, cessa a excitação. Há exceções, como aconteceu com um tio meu que desde que viu as pernas da Cid Charisse, no cinema, em 1954, nunca mais foi o mesmo. Até trocou de nome! Um homem pode sentir atração por inúmeras mulheres ao longo da vida, mas amará poucas, duas ou três, no máximo. O amor ao qual me refiro é aquela sensação boba que faz com que um PHD em Ciências Espaciais apanhe uma margarida e fique brincando de bem-me-quer-mal-me-quer, depois passe horas apreciando abelhas trabalhando, passarinhos chilreando e outras coisas do gênero. Mesmo estando longe da amada. O processo amoroso (do verdadeiro amor) desperta alguma coisa no organismo. Algum hormônio é liberado na corrente sanguínea e torna o apaixonado feliz. É a definição de felicidade no seu sentido mais amplo, não há nada que se compare. Não descobriram ainda uma droga que reproduza tal estado, quem o fizer certamente vai enriquecer, é a fase da vida em que as coisas parecem fazer sentido. O que me levou a refletir sobre o tema foi um vaga-lume atraído pela luz do carregador de bateria. Ele ficou louco, ensandecido, voou em volutas convidativas, fazendo charme, piscando em diversas freqüências, exibindo todo o repertório do macho querendo conquistar a fêmea. Quando fui verificar, a bateria estava carregada, desliguei o carregador a luz apagou. O vaga-lume sentiu uma dor no peito indescritível. Foi como se tivesse levado uma punhalada no coração. Rodopiou desesperado procurando, suponho que com a alma aos prantos. Depois voou para longe frustrado. Queria saber do paradeiro da amada, onde andarás querida, por ti tudo farei, inclusive lutarei contra o rei. Hoje deve estar escrevendo poesias, ou foi comido por algum passarinho. C’est la vie.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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