O pânico gerado pelos ataques de 11 de setembro de 2001 em Nova York, somado às medidas de estímulo pós-estouro da bolha das ações das empresas de tecnologia, levou o Federal Reserve (FED) a reduzir radicalmente as taxas de juros e a incentivar a expansão do crédito no mercado interno americano. Para conter a exagerada expansão do consumo alguns anos depois da medida, o FED aumentou as taxas de juros, que foram de 1,22% no início de 2002 a 5,25% no final de 2006. O aumento das taxas de juros trouxe grandes dificuldades para a maioria da população americana, que havia abusado do endividamento. Como conseqüência, a inadimplência cresceu e contaminou todo o sistema financeiro que também abusou da alavancagem. O resto da história nós estamos vendo acontecer desde o início do segundo semestre do ano passado. Sob o ponto de vista da política monetária, o FED atuou corretivamente ao longo do período em que o consumo estava se expandindo. Ele aumentou as taxa de juros e encareceu o custo dos financiamentos. Ação, aliás, que trouxe como conseqüência o aumento da inadimplência. O problema é que o timing talvez tenha sido errado. O FED deveria agir preventivamente, a fim de evitar o início da bolha de consumo. Isto é, deveria impedir que a bolha se formasse. Agora que a bolha estourou, o FED teve que correr, o que ele vem fazendo muito bem. Nesse momento, mais importante do que o volume de recursos despejados no mercado ou o tamanho dos cortes das taxas de juros, é a prontidão com que ele responde a cada novo foco de incêndio que aparece diariamente. O processo de saneamento do mercado financeiro americano, dado o tamanho do problema, deve levar mais alguns meses. Talvez até meados deste ano. Para isto, não faltarão recursos e força de vontade dos mercados mundiais. Por maior que seja o problema, há dinheiro de sobra acumulado pelos fundos asiáticos ao longo dos últimos anos. A eficiência do mercado financeiro americano permitirá que os recursos espalhados pelo mundo cheguem rápido para tapar os buracos gerados pelo estouro da bolha. Para a economia real, no entanto, o processo de ajuste deverá levar mais tempo. A desvalorização do dólar estimulará as exportações e inibirá as importações nos Estados Unidos, gerando emprego interno e impulsionando o crescimento econômico. O barateamento dos ativos americanos atrairá grande quantidade de capital estrangeiro, aumentando a taxa de investimento e a produção. Mas, devido à dinâmica da economia real, esse processo demanda pelo menos uns dois anos. Enquanto durar o processo de saneamento do mercado financeiro americano, a turbulência continuará. As Bolsas de Valores no mundo todo sofrerão as conseqüências. No entanto, após esse saneamento, os países que estiverem mais equilibrados conseguirão se destacar. Acredito que, para o Brasil, essa crise possa até ser benéfica. No curto prazo, menos inflação; e no longo prazo, mais credibilidade. Nota do Editor: Alcides Leite Domingues Junior é professor de macroeconomia da Trevisan Escola de Negócios. Email: alcides.leite@trevisan.edu.br.
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