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SEÇÃO
Crônicas
02/04/2008 - 07h01
Um passeio pela biblioteca
Anderson Oliveira
 

Mensagem: Era um dia nublado, saí de casa com a certeza de que não choveria, porém se chovesse eu estaria abrigado, num lugar deserto, de calma e silêncio. Já havia perdido a soma dos dias em que habitava sozinho a paz daquela biblioteca, ouvindo as vozes vindas da rua, o motor dos carros, toda a vida lá fora. As prateleiras com sua infinidade de volumes me traziam uma existência eterna, havia um mundo de relatos de amor, ódio, loucura, dramas, romances bobos, histórias infantis. Eu sentia, aquele era meu mundo.

Da fachada daquela casa antiga, tão histórica quanto seus livros eu me vi em seus cantos. "Por quantas vezes havia preenchido a solidão de minha adolescência com páginas repletas de vidas passadas?" - perguntei a mim mesmo, como era de costume. Ali dentro olhava cada volume, sabia de cor o que havia em muitos deles, alguns já fugiam de minha fraca memória, alguns se encenavam na minha frente como a morte de Werther em seu amor infinito por Carlota, a espera interminável de Florentino Ariza por sua amada Firmina, ou o desespero de Raskolnikov por seu Crime e seu Castigo, eram muitas as cenas, de histórias fantásticas, de pensamentos sufocantes. O sol já se punha lá fora, não pude ver, porém o fechar das janelas era o sinal de que a biblioteca seria fechada; eu deveria ser rápido, escolher algum volume que saciasse minha insônia.

Eu revistava cada prateleira, todas elas me ofertavam suas dezenas de histórias, novelas, contos. Cada prateleira trazia dezenas de países, de tradições, de costumes, de acontecimentos tão distintos. Ali era possível visitar a Colômbia de García Márquez, a Rússia de Dostoievski e Tolstói, Portugal de José Saramago ou se ater ao nosso país, em nosso maior escritor, Machado de Assis. Lembro ter devotado grande parte de minha adolescência a esse último. Machado de Assis era a complexidade do pensamento, a construção genial de uma narrativa, a fantasia, a realidade, o que temos de melhor. Decidi, era ele o escolhido, mas não sabia qual deles, já havia lido quase todos. Faltava "Iá Iá Garcia". Peguei esse.

Na recepção, junto à bibliotecária, relembrei da solidão daquela casa antiga. Havia público ali sim, a maioria para consultar algum autor, jovens fazendo trabalho escolar. A cidade era grande, no entanto quantos já foram ali emprestar pelo menos um livro? Refleti sobre o caráter deserto de uma biblioteca, eram poucos que sentiam o mesmo, que freqüentavam aquela casa e viam as histórias se exibirem diante de seus olhos. Olhei para o livro de Machado de Assis, cem anos sem suas palavras. Olhei para aquela biblioteca. Quantos anos eu queria viver para ler todas essas histórias?!


Nota do Editor: Anderson Oliveira é jornalista.

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