O termo "distribuição de renda" carrega um quê de paternalismo ou de "Robin Hood" que lhe confere nuances pejorativas. Não sou adepto de citações, mas, salvo engano, é atribuída a São Vicente de Paula a síntese do lema: "em vez de dar peixe, ensinar a pescar". Mas existem muitos outros que também pregam princípios semelhantes. Cheios de utopia e conteúdo filosófico, eles que constam de praticamente todos os programas político-partidários e doutrinas religiosas, quaisquer que sejam suas "cores". O que é preciso, no entanto, é promover efetivamente a geração de renda em toda a sociedade, financiando sua autonomia financeira. Esse, aliás, é um dos principais fatores de estabilidade social. O Estado deveria, então, priorizar atividades empreendedoras nas comunidades, estimular parcerias com empresas e instituições de treinamento. Isto já vem sendo feito, mas de forma ainda muito tímida e, por vezes, direcionada ou cheia de "atravessadores". É preciso ter sempre em mente que no mundo capitalista poucos gostam de dar dinheiro, exceto quando isso gera abatimento no IR. Preferem trocar dinheiro por algo que lhe interesse, preferencialmente com lucro. No lado oposto, os que não nasceram em berço de ouro e rejeitam a marginalidade como meio de vida, ou tornam-se apáticos, ou sentem-se cada vez mais humilhados por não poderem assumir a autoria de seus destinos. Uma letra de Gonzaguinha (perdão pela nova citação) definia muito bem as expectativas dos mais humildes: "O sonho é sua vida e a vida é o trabalho. E sem o seu trabalho o homem não tem honra, e sem a sua honra se morre... se mata!". Isso não é um pouco do que se vê por aí? Dinheiro para fomentar essa dignidade pelo trabalho existe, e milhões foram e são jogados pelo ralo em projetos clientelistas, ou emendas orçamentárias "bem intencionadas" de parlamentares. O que raramente houve foi honestidade e objetividade na gestão dos recursos! Pior: um recurso que é do Estado (do povo!) chega às comunidades com "dono", geralmente um político, que posa como benfeitor ou, ultrapassando o limite da execração, cobra para liberar o que não lhe pertence! A má gestão do dinheiro público e a má concepção desses programas acaba abrindo espaço para ONGs e entidades assistenciais, leigas ou religiosas, nacionais ou internacionais, com objetivos nem sempre meritórios (alguns duvidosos) e resultados raramente positivos. Além disso, o Estado também peca na solução da origem da miséria, com um ensino público básico de qualidade preocupante, saneamento deficiente, e falta de atenção para quem realmente precisa de paternalismo: as crianças. Não faltam iniciativas e projetos, é verdade. Também não falta fé ao povo brasileiro, apesar de tudo. Mas o que o Brasil precisa mesmo, e desesperadamente, é de políticos honestos! Oremos... E cobremos! Nota do Editor: Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro, professor universitário (UNISANTOS e UNISANTA) e compositor. Mestrando em Educação (UNISANTOS). E-mail: prof_adilson_luiz@yahoo.com.br.
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