Um dia destes, um tedioso cidadão, daqueles que quando pensam o cheiro é insuportável, me veio com uma conversa certamente encomendada pelo diabo, sobre a minha saúde, já que de vez enquanto reclamo dela. No vai e vem da conversa, o dito cujo me pergunta se eu já pensei em suicídio? Aí ele quer me fazer pensar se já pensei em tal opção de morte.

Claro que não! Morrer nem será meu último desejo, pois se estivesse condenado ao fuzilamento, por exemplo, e me viesse o carrasco perguntar meu último desejo, eu diria: “Assistir o batismo do filho de meu tataraneto mais novo”. Viver é bom, mesmo com o gerente do banco querendo tomar seus bens, e o safado do vizinho de olho no seu bem!

Das mais de dez mil e uma doenças conhecidas, só duas mil têm algum tratamento conhecido, e somente quinhentas podem ser curadas. Uma das doenças incuráveis é a inveja. Quem a tem sofre com ela a vida toda, e vai ver que nem o fogo do inferno consegue consumir essa doença.

Não entendo porque alguns têm inveja de mim, se minha felicidade é tão fácil de alguém ter: uma pequena casa, alugada; móveis comuns e um ventilador barulhento; uma velha máquina de escrever, que não mais escreve; dois ternos, um claro e um escuro, para ocasiões especiais; dois computadores (raiva dobrada); uma cadela no quintal; duas filhas, crianças e arteiras, que me divertem (os mais velhos já casaram) e uma mulher companheira, que ora chamo de esposa, mas quase sempre de amor.

Vivo do que produzo, não tenho aposentadoria nem salário fixo. Corro atrás, como se diz no popular. Tenho feito viagens, muitas para tratamento fora de domicílio, e para garantir minhas passagens, compromisso que o Sistema Único de Saúde – SUS vem tentado fugir, principalmente após a tropeçada da CMPF, já tive que recorrer algumas vezes à intervenção da Promotoria de Justiça... Pois se há o que não abro mão é de algum direito que tenha. Assim como sou cobrado por meio das leis, taxas e impostos, eu cobro, para mim, compromissos do Estado em qualquer estado que ele esteja.

Sou feliz, pois das mais dez mil e uma doenças existentes, sou apenas diabético, cardíaco e portador de uma hérnia umbilical. Imaginem se eu tivesse a décima parte delas? E a vida vai me levando e eu, além do cartaz que afixei na redação – “Por favor, não me perturbem com conversas para boi dormir” – vou mandar escrever outro – “Se o passado soubesse como sou feliz agora, não viria me perturbar com suas velhas saudades!”.

Nota do Editor: Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, DRT-398/BA, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi Bahia... É jornalista investigativo, escritor, poeta, e adepto do humor. Também conhecido como “Jornalista do Sertão”. E-mail: seupedro@micks.com.br