Advogados do Estado de São Paulo estão correndo o risco de não receber suas aposentadorias ou pensões. O calote pode acontecer porque o Governo estadual patrocinou alterações legislativas que desequilibraram financeiramente a administração da carteira de previdência dos advogados. Trata-se de mais um desrespeito aos profissionais do direito, obrigados a conviver com a preocupação de ter um final de carreira marcado por esse novo calote. Tenho certeza de que minha história é muito parecida com a sua. Era 1989. Cursava Direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e, assim como a maioria dos meus colegas, estagiava em um escritório de advocacia. Estava no quarto ano e isso me dava uma condição "profissional" diferenciada - um estágio reconhecido pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Recebi então, com muita honra, minha primeira "Carteira da Ordem". Sem dúvida, aquela solenidade de entrega marcou o início de minha carreira. Aprendi desde criança a trabalhar com as incertezas do futuro. Sabia que, se aquele era o começo, um dia o fim também chegaria. Era agosto. Com a imprescindível carteira de estagiário da OAB na mão, fui à Praça Dom José Gaspar, ali, perto da tão esquecida Biblioteca Mário de Andrade, na região central da Capital paulista, para tratar da minha futura aposentadoria e pensão. Apresentei meus documentos, fiz exames médicos, paguei as taxas e me inscrevi na Carteira de Previdência dos Advogados de São Paulo, no Instituto de Previdência do Estado de São Paulo. Foi assim que o Ipesp entrou na minha vida. A partir de então faço parte da Carteira, que confere aposentadoria e pensão para os advogados, mediante contribuição mensal, nos termos previstos em lei, segundo os anos de inscrição e os valores atuariais determinados pelo gestor. Instituída por Lei Estadual desde 1959, reorganizada em 1970, é administrada pelo Ipesp. Desde 1989 - portanto há 19 anos - pago religiosamente o boleto bancário em dia. Todo mês. Nunca atrasei nenhuma prestação. Acreditei na Carteira dos Advogados, no Ipesp e no Governo do Estado de São Paulo. Você acreditou também? Dançou! Aliás, dançamos! Agora, depois de o Governo do Estado de São Paulo ter patrocinado alterações legislativas que impuseram redução das receitas da Carteira dos Advogados (lei estadual 11.608/03), que provocou total desequilíbrio atuarial da carteira, querem que fiquemos com o prejuízo. Se você é um dos 37 mil advogados membro da Carteira, saiba que está correndo um sério risco de não receber sua aposentadoria ou pensão. Estão querendo dar calote em nós, advogados, aposentados e pensionistas. Mais um! Querem que engrossemos a fila dos credores de precatórios alimentares. A fila do Ipesp está atrasada 10 anos! Esse artigo serve como alerta. Precisamos nos mobilizar para não deixar que o pior aconteça. Temos que dar força política aos nossos órgãos de representação, OAB, AASP e Instituto dos Advogados, para que possam postular o que é de Justiça, junto ao Governo do Estado. A AASP solicitou um parecer - brilhante, como sempre - do Dr. Adilson Dallari. Está disponível no site da associação (www.aasp.org.br). Nele encontramos todas as fundamentações jurídicas necessárias para a compreensão da questão, inclusive quanto à responsabilização pela desorganização atuarial da Carteira. Aconselho a leitura. Se você um dia foi previdente ao ponto de pensar no seu futuro e de sua família, seja novamente. Trabalhe nesta causa. Nota do Editor: Marcelo Gatti Reis Lobo é advogado, especialista em Direito Processual Civil do escritório Dabul & Reis Lobo Advogados Associados - (marcelo@dabulreislobo.com.br).
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