Enfim chove. Não em mim, mas na cidade. São as águas de Tom fechando o verão, trazendo promessa de vida aos corações. Desculpem se mexi no intocável. Ninguém brinca com o que Tom Jobim consagrou. Apenas me inspiro e me arrisco a não ser incompreendida. No entanto, nada define melhor o que sinto do que os versos de Águas de Março. A chuva que vejo e ouço: a luz que adentrou o meu quarto num lindo relâmpago e o som do trovão, que me lembra a infância, trouxe-me a esperança e a renovação que a chuva sempre traz. Agora chove onde deve chover. Em meu coração que já estava inundado parou de chover, na hora certa, deixando o campo fértil. Separei a tempo as sementes. Plantei apenas as boas. Agora espero flores e frutos brotando nos canteiros e no coração. Quero olhar a vida com o olhar do sertanejo que, para ser feliz, basta ver o céu se preparando para chover. E quando chove é o céu que o abençoa. Aqui, onde só há duas estações. Essas águas fecham o verão, lavam ruas, almas e fachadas. Refrigeram corpos e espíritos que ardiam ao sol inclemente. Nessa noite, deito-me tranqüila, como há muito não me sentia. Aconchego-me na cama e embalo meus sonhos na melodia da chuva que cai. Que venham as flores, agora tenho ânimo para esperar. Nota do Editor: Evelyne Furtado é jornalista, poetisa e cronista em Natal (RN).
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