Eu senti o vento acariciando meu rosto e a imaginei com sua mão direita segurando a minha mão esquerda. Esfriava cedo naquela tarde. E a presença daquela mulher na minha lembrança atormentava meus pensamentos. Já a sua ausência física atormentava o meu coração. Eu queria que ela estivesse ali comigo, mas estava sozinho. Eu lembrava dela em tudo que via e fazia. E eu olhava o artesão sentado sobre a calçada escrevendo dois nomes num coração prateado e me sentia mais sozinho ainda. Ela bem que poderia estar ali comigo. E eu olhava tudo à minha volta - mas ela não estava em lugar algum, além de minhas lembranças. Eu queria a companhia dela. Eu queria apenas ela ali comigo e mais nada. A saudade era mais forte que qualquer outro encanto. Então, andei sem destino. Olhei as pessoas e olhei os carros. Parei um pouco e comi um sorvete de massa no sabor morango com cereja. Ela sempre adorou cereja. Depois continuei andando e observando tudo. Eu vagava pelas ruas procurando achar o que eu sabia que não estava lá. O olhar, o sorriso, o jeito genioso e tudo mais que sempre lhe foi peculiar não estavam comigo pelas calçadas da velha Avenida Paulista, mas estavam no meu coração, e isso já fazia muitos anos. Fechei o zíper da jaqueta e sentei no banco de concreto da mesma pracinha de sempre. Já sentara muitas vezes no mesmo lugar. Olhei para o prédio de frente com seus janelões de madeira. Olhei para o chafariz lindo como sempre. Olhei para o meu relógio e os ponteiros marcavam 17h55. Olhei do meu lado direito e vi uma garota também sozinha olhando ao longe. Em volta do chafariz passeava uma senhora negra aparentando uns 60 anos, vestida de moletom cor-de-rosa e calçando um tênis branco. Esta senhora levava consigo um cachorro poodle do pêlo bem branquinho. A solidão parecia presente onde quer que eu olhasse naquela tarde. O sol foi escondendo e a lua aparecendo. Pensei tanta coisa. Senti uma bola parada entre o peito e a garganta sufocando minhas emoções. Senti os olhos marejarem de saudade da mulher amada. O meu relógio correu rápido os minutos, enquanto eu não sabia o que queria dizer a palavra pressa. Ali sentando, vi o filme da minha vida passar por completo dentro da minha cabeça. Foi uma sessão individual em que eu me dividia nos papéis de protagonista, coadjuvante e espectador. Naquele momento deu vontade de voltar no tempo e fazer tudo de novo, mesmo que tudo tenha dado errado. A verdade é que ela nunca me saiu da cabeça e nem do coração. Nota do Editor: Fábio de Lima é jornalista e escritor, ou "contador de histórias", como prefere ser chamado. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO, com publicação (ainda!) em data incerta.
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