Como todo mundo sabe, a UFRJ - em convênio com a Escola Nacional Florestan Fernandes do MST - costuma oferecer um curso de pós-graduação para os sem terra, que dispensa graduação e até mesmo diploma de primeiro grau. E agora vai estar formando a sua segunda turma no meio do ano com 48 participantes. (Jornal da ADUFRJ, 26/3/2008). Ou eu ensandeci ou o responsável por essa aberração "pedagógica" ensandeceu. Simplesmente impossível é estarmos ambos em plena posse das nossas faculdades mentais. Considerado por seus coordenadores que a universidade cumpre sua "função social" com esse descalabro subversivo, um deles ainda foi ainda mais longe: "A chegada desses trabalhadores [obs. minha: São chamados de ’trabalhadores’ o que eu chamo de invasores de propriedade privada e destruidores de patrimônio alheio] areja a universidade na sua estrutura conservadora" e completou: "Esperamos que a universidade continue a bancar um projeto como este" (idem ibidem). [obs. minha: Enquanto ela tiver reitores do PT (Perda Total) e outros contaminados por um esquerdismo patológico, não há o que temer. A subversão será de bom grado sustentada com dinheiro público, como alguém fabricando o veneno com que será ele próprio envenenado]. Para a aula magna, ministrada quando da formação da segunda turma, foi convidado o hidrófobo líder dos insensatos João Pedro Stédile, cujo convite não causa espécie, uma vez que esse comunista de carteirinha já foi até mesmo convidado para fazer conferência na ESG (Escola Superior de Guerra). Certamente, porque os militares desejavam obter frescas informações sobre a preparação de guerrilhas camponesas e suas estratégias neste Brasil a um passo do comunismo tipo chinês pós-Mao-Tsê-Tung. De saída, Stédile lembrou que a universidade mantém ainda uma pareceria com o MST num curso de especialização em Filosofia. Só se for de Filosofia Marxista voltada para a práxis revolucionária em que são estudados e postos em prática Karl Marx, Vladimir Lenin, Josef Stálin, Mao-Tse-Tung, Pol-Pot, Gi-Api, Fidel, Che Guevara, Prestes, Marighella, Lamarca, Julião (o das Ligas Camponesas) companheiro Zé Dirceu, companheira Estella, et caterva. Disse ainda, quase espumando de raiva, que os sem terra precisam ser alertados do nefasto neoliberalismo que tomou conta do Brasil. Oh! Que perigo periculoso! E eu que nem sequer sabia que o liberalismo já tinha aportado neste país patrimonialista e mercantilista! Ainda bem que posso contar com as prestimosas informações do jornal da ADUFRJ para me manter atualizado! E em seguida, brindou a platéia com esta bela e ambicionada pérola dos mares do sul: "Se me permitirem, o MST já se sente em casa nesta universidade. E como é de praxe na nossa metodologia, quando ocupamos um espaço não saímos mais" [obs. Foi sincero. Disse a verdade! Se um dia a universidade cair na real e quiser despejar os sem terra, terá que recorrer à Justiça com um pedido de reintegração de posse, juntamente com o braço armado da polícia, para obrigar ao cumprimento de ordem judicial]. Percorrendo a história do Brasil - com um viés de Jean-Jacques Rousseau e seu bom selvagem, que tanto apreciam os revolucionários da América do Sul - Stédile afirmou que "naquela época [antes da chegada dos portugueses], estudos antropológicos comprovam que não havia propriedade privada ou coletiva do solo". De fato, mas porque simplesmente não havia qualquer noção de noção de "propriedade", mas sim de "posse" do solo - posse, aliás, defendida ferozmente pelos tapuias quando os tupinambás atacavam suas aldeias, pelos carijós quando os aymorés atacavam as deles e pelos botocudos quando atacados pelos bororos. Era a bellum omnium contra omnes, guerra de todos contra todos, de que fala o insigne Thomas Hobbes em seu Leviathan. Quem ainda não leu, não sabe o que está perdendo! E é justamente pela total incapacidade de Stédile e os sem terra compreenderem a diferença entre posse e propriedade - esta como garantia legal daquela - que estão sempre correndo o risco de serem expulsos de suas terras por grupos armados de posseiros, sem que possam reivindicar legalmente a devolução de algo que legalmente não é seu: a propriedade, esta "abominável coisa de capitalistas possessivos", segundo Alan McFarlane, primo do monstro de Loch Ness. Tal como o insaudoso finado Darcy Ribeiro e o ainda vivente e atuante Jô Soares - ambos assaz hilariantes - Stédile não consegue esconder seu profundo ressentimento em relação à monarquia, mais especificamente em relação a D. Pedro II, não se sabe o por quê. Mas, segundo Darcy Ribeiro, o imperador era racista. Não gostava de negros e queria "branquizar" o Brasil. Por isso mesmo, convidou camponeses alemães e italianos para colonizar o sul do País - coisa que, como todo mundo sabe - até mesmo o professor Luizinho e Luiz Inácio - não deu certo, foi uma calamidade social resultante de mero preconceito imperial. [Atenção: estou ironizando, ô Mané!] Segundo o rancoroso líder dos sem terra, este mesmo imperador foi o grande causador de uma terrível desgraça que se abateu sobre nossa terra [Continuo ironizando!]: "Foi assim que, em 1850, D. Pedro II publicou a lei n° 601, que dispõe sobre as terras devolutas do Império. Esta lei está em vigor até hoje. E foi ela que introduziu os fundamentos jurídicos da propriedade privada da terra no Brasil" (idem ibidem). Oh! Que desgraça! Como sabemos, "Toda propriedade é um roubo" [Escrito por Proudhon, subscrito por Stédile com mais ênfase do que o próprio Marx!]. Segundo esse mesmo esquerdista carnívoro (*) a propriedade privada é um grande mal que precisa ser erradicado e substituído por fazendas coletivas, como as da finada URSS e da moribunda Cuba. Acrescenta ainda que "apenas no governo João Goulart ganhou força um projeto de reforma agrária no Brasil. Intenção que chegou a ser anunciada no famoso discurso da Central do Brasil de março de 1964. A história vocês já sabem. A burguesia derrubou o governo" (idem ibidem). E espero que seja também derrubado todo e qualquer governo que pretenda impor, a qualquer país, fazendas coletivas, que já se mostraram um colossal fracasso econômico e a ditadura do proletariado, que na realidade não é exatamente "do", mas sim "sobre" o proletariado [segundo o dissidente Bukharin]. Parafraseando Stédile, o referido jornaleco da ADUFRJ - uma trombeta universitária na propaganda das piores idéias esquerdistas - diz ainda que "a partir da década de 90, com a introdução do neoliberalismo em terras tupiniquins, o problema do campo se agravou ainda mais. Grupos multinacionais passaram a controlar todo o processo da produção de sementes e de equipamentos, passando pelos fertilizantes. (...) Aí não existe espaço para os camponeses." (idem ibidem). De fato, a agroindústria, juntamente com todo aparato que ela envolve, é a grande responsável pelo superávit na balança comercial brasileira dos últimos 15 anos. Palmas para ela?! Não, porque a agroindústria restringe o espaço para os camponeses. Uma vez todo mecanizado o campo, diminui consideravelmente sua capacidade empregatícia de mão-de-obra não-especializada. Esta massa de trabalhadores desempregados, corre para as cidades em busca de emprego. Sendo a grande demanda muito maior do que a oferta de empregos, o resultado é sobejamente conhecido. E isto constitui inegavelmente um grave problema socioeconômico que não pode ser ignorado, mas que não deve ser resolvido da maneira como propõe Stédile! Confesso honestamente não saber qual a solução, mas ao menos sei quais não são as soluções: hostilizar as multinacionais invadindo suas propriedades e destruindo seu patrimônio - como nos casos da Aracruz Celulose e da Monsanto etc. Coletivizar e estatizar a agricultura eliminando a propriedade individual, a competição e o lucro etc. Tais medidas nunca resolverão o problema dos sem terra; tampouco o resolverá um retorno a um idílico passado de pequenos plantadores de banana, côco e mandioca e criadores de cabras e galinhas, como propôs certa feita a CNBB numa de suas campanhas - entidade esta muito simpática às invasões de terra comandadas por Stédile e seus asseclas, tão retrógrada e obscurantista quanto a UFRJ e todas ou quase todas nossas estatais universitárias. E desse modo, mais um brilhante conferencista expôs suas não menos brilhantes idéias na Ilha do Fundão em que tudo afunda, aplaudido por uma obnubilada, deslumbrada e embevecida platéia por tanta obnubilante, deslumbrante e embevecedora verve subversiva, rancorosa, ressentida e totalitária. Roba da matti! Commendatore Oliva. (*) Segundo C. A. Montaner e outros, em A Volta do Idiota (Rio de Janeiro, Instituto Liberal, 2008), na América Latina há dois tipos de esquerdista: o carnívoro e o herbívoro. De nossa parte costumamos chamar o carnívoro de "esquerdista heavy" e o herbívoro de esquerdista light. Este é um social-democrata como FHC, por exemplo. Mas aquele é um socialista totalitário como Stédile, por exemplo. Há, na realidade, um terceiro tipo: o cripto-social-democrata, que finge ser light enquanto lhe for conveniente, mas porá suas garrinhas de fora quando for a hora. Como LIS, por exemplo. Nota do Editor: Mario Guerreiro (xerxes39@gmail.com) é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).
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