Com o passar dos anos, por falta de vontade política de sucessivos governos e inoperância do Legislativo, o Sistema Previdenciário do Brasil enveredou por um beco que parece sem saída. A bola da vez são dois polêmicos projetos aprovados no Senado. Um acaba com o chamado "fator previdenciário", adotado em 1999 com o objetivo retardar pedidos de aposentadorias. Outro determina que as aposentadorias, independentemente de seu valor, terão reajuste igual ao aplicado ao salário mínimo. Agora o governo vai tentar derrubar os projetos na Câmara, onde tem maioria. Os idealizadores de nosso Sistema Previdenciário, que deve fechar 2008 com rombo de R$ 44 bilhões, talvez não tenham pensado que no futuro haveria menos pessoas trabalhando e contribuindo do que as que estão aposentadas e recebendo os benefícios. O cálculo da longevidade quando o sistema foi criado era outro. A expectativa de vida baseava-se entre 50 e 60 anos. Hoje, sabemos que a expectativa média de vida é de aproximadamente 71,3 anos. Com a revolução no mercado de trabalho formal, a supressão da captação das contribuições à Previdência foi o golpe mortal para que essa estrutura mal edificada mostrasse sua faceta falaciosa. Ano após ano, o governo tenta encobrir o "rombo" na Previdência, afirmando estar criando mais empregos para que os trabalhadores obtenham renda. Se olharmos pela ótica do governo, saberemos que sua intenção real é a obtenção de um número maior de contribuintes para que o déficit previdenciário possa ser revertido. É outro erro crasso, pois a oferta de emprego formal é sazonal e está baseada em princípios bem diferentes dos que deveriam ser os de desenvolvimento econômico. Se, por um lado, o número de carteiras assinadas cresce, por outro, o salário médio dos trabalhadores achata-se cada vez mais. Hoje, com os parcos aumentos que o salário mínimo referência no país recebeu, ele quase alcança alguns salários médios pagos pelas empresas a trabalhadores que, se antes viam uma grande distância entre suas remunerações e o salário mínimo, hoje percebem claramente que na verdade foi o seu "poder de compra" que se reduziu. O aumento do salário mínimo traz a camada menos abastada da população ao fantástico mundo do consumo. Em breve - como no caso da Previdência - o que poderemos ver é a volta da inflação, com mais força do que outrora. Mais consumo, mais crédito liberado sem restrições e a chamada classe "C" vai se endividando sem perceber. Crescimento econômico falacioso. Sistema previdenciário quebrado. Governo tentando manter-se no poder a qualquer custo. Como resolver parte dessa questão, pelo menos a que interessa a uma camada da população trabalhadora, que não está inclusa nessas contas dantescas do governo? Se por um ângulo os trabalhadores de carteira assinada contribuem hoje para não receber de volta amanhã - e estejam certos disso -, por outro existe uma ferramenta poderosa que garante, ao menos com um pouco mais de viabilidade, que reservas feitas com vistas a um futuro de tranqüilidade não caiam no sorvedouro da Previdência Oficial, tampouco sejam usadas pelo governo para "tapar" outros buracos da máquina. O sistema privado de Previdência é um bom instrumento, mas ainda não é o melhor, considerando-se as oscilações da economia mundial. Uma solução potente para gerenciar o "futuro" surge através do sistema cooperativo. É uma excelente saída para aqueles trabalhadores que já sabem gerenciar seus recursos, mesmo que timidamente, e até mesmo para aqueles que querem aprender a como fazer isso. Tal modelo guarda uma gama de possibilidades que vai desde a simples poupança até o desenvolvimento de grandes negócios cooperativos. Permite, inclusive, tornar-se sócio de um Fundo de Pensão. Com a participação de grupos coesos que se organizam em cooperativas de crédito, é possível fazer surgir um banco privado, com a administração de todos seus sócios. Dinheiro seguro é aquele tratado com respeito. E ninguém melhor para respeitá-lo do que seu próprio dono. Afinal, ele sabe quanto custou ganhar. Um dos setores menos favorecidos por iniciativas desse tipo é a categoria dos profissionais liberais. Entre elas, está uma pouco abordada nesse aspecto, mas que detém um dos maiores níveis de problemas relacionados à cobertura previdenciária: a dos pastores e administradores de igrejas independentes. Engajados no trabalho eclesiástico, pouco tempo têm para se preocupar com tal questão. Somente se deparam com tal necessidade quando surge um fato inusitado, uma doença, uma necessidade de afastamento, a aposentadoria ou, em último caso, o falecimento do provedor da família, que acaba por sofrer as piores conseqüências. As igrejas centrais vêem-se desprovidas de cobertura financeira para fazer frente a essa questão e suas administrações tampouco se preparam para esse momento. Uma cooperativa voltada para o atendimento das necessidades dessa importante classe laboriosa resolveria a questão. Entretanto, é necessário que a classe se organize e busque tal solução de forma conjunta. Todos serão beneficiados e terão a certeza de que suas economias serão administradas por quem interessa. Eles mesmos. Nota do Editor: Daniel Augusto Maddalena é consultor especialista em cooperativismo e empreendedorismo.
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