À medida que a tecnologia da comunicação se vai sofisticando e conquistando a preferência das novas gerações, que entre a escola e a internet optam, sem quaisquer remorsos, por esta em detrimento daquela, a crise da educação tende a agravar-se cada vez mais. De avaliação em avaliação crescem os índices de desaproveitamento escolar, para desaponto dos professores, escândalo das famílias e crescente desorientação dos policy-makers do Ministério Federal e das secretarias estaduais de educação. Todos estão perplexos e os jovens, que são as grandes vítimas desse desastre, preparam-se cada vez menos para a disputa de seu lugar ao sol nesta era, sua e nossa, que depende fundamentalmente da quantidade e da qualidade dos saberes armazenados durante o período escolar. Os currículos tradicionais, os conteúdos nem sempre atuais das lições, as avaliações de aprendizagem centradas no que os alunos não sabem e desprezando aquilo que eventualmente saibam, as didáticas repetitivas e discursivas de professores formados na era jurássica, o desaparelhamento escolar no que diz respeito a TVs, computadores, pessoal especializado na pedagogia da transmissão atraente do conhecimento – tudo isso combinado resulta numa escola que, para os alunos nascidos na cultura do Google, do Speedy, das bandas, das digitalizações e coisas que tais, não faz sentido. De repente, algum burocrata descobre o óbvio: os alunos do ensino básico são fracos em Português e Matemática. Vai daí surge um programa de aulas intensivas nessas duas disciplinas, como se numa enfermaria de anêmicos se começasse a ministrar doses maciças de vitaminas A, B, C aos doentes... Sem discutir a necessidade de saturar os alunos de Matemática e Português, ouso perguntar: quais os meios a serem empregados para o fortalecimento desses saberes? Haverá didáticas especiais para essa cruzada contra a ignorância reinante entre os jovens quanto à arte de calcular e comunicar? Ou serão os mesmos professores, com as didáticas de sempre e sem o auxílio das tecnologias da imagem e do e-learning já consagradas pela TI? Nessas medidas pensadas hoje com os instrumentos de ontem, mister se faz acrescentar aos currículos, principalmente os de ensino médio e superior, a disciplina denominada autodidaxia ou autodidatismo, porque, com o império da educação permanente, ora instalada nos sistemas de ensino, a escola será menos uma transmissora presencial do saber, e mais um misto de usina difusora, que prepara e oferece as novas linguagens do saber, por meio de uma semiologia tecnológica, cujo acesso caberá ao aluno fazer por conta própria, em casa, no trabalho e até no lazer, em sua permanente necessidade de atualização. Daí que é preciso ensiná-lo a pesquisar, a buscar e a achar o que lhe interessa, para viver nesse mundo de Flash Gordon (*), que parece nos estar reservado, daqui para a frente. Creio que é para isso tudo que as futuras propostas de reforma de ensino devem atentar prioritariamente, para que se não percam, nem recursos, nem expectativas dos que se vão educar e que já não conseguem digerir as velhas fórmulas desprovida da modernidade tecnológica. Há que se reabilitar o autodidatismo que, no passado foi uma alternativa à desescolaridade, mas que hoje poderá ser o instrumento principal de uma nova educação. (*) Super-herói futurista de história em quadrinhos, lançado em 1934. Nota do Editor: Paulo Nathanael Pereira de Souza é doutor em educação e presidente do Conselho de Administração do Centro de Integração Empresa-Escola - CIEE.
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