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SEÇÃO
Crônicas
25/04/2008 - 11h23
Sexo no trabalho
Ruth Barros
 
Contos da Mula Manca

Foi em um avião, recentemente, que ouvi um dos maiores xavecos de minha vida. Antes de contar devo esclarecer que por circunstâncias de vida, profissão, família etc. tenho mais horas de avião que urubu de vôo. E o xaveco não foi comigo. Fui apenas testemunha involuntária da trama e só fui percebida quando era tarde demais, ou seja, já tinha rolado a sentença. Estava sentada em um dos últimos lugares de um vôo doméstico, meio cheio, meio vazio. Uma aeromoça ajudava a arrumar valises em um bagageiro alto quando, achando-se a salvo dos passageiros, um comissário chegou, deu-lhe uma encoxada e sussurrou, não tão baixo que meus ouvidinhos de lince não pudessem ouvir: "Assim que a gente aterrissar você vai decolar".

A moça aérea teve um faniquitinho de prazer que só não foi melhor porque ela sabia de minha presença, apesar de não ter me mexido detrás dos óculos escuros. "A passageira ouviu", ela informou bem baixinho ao encoxante, novamente ao alcance dos meus ouvidos de lince. O cara, que era um bonitão, se eclipsou, não o vi nem durante o desembarque, deve ter pulado do avião. A garota, que era feiinha, ficou vermelha, tão corada que ficou até bonita. Me olhou completamente sem graça, dei um sorriso de cumplicidade protegido pelas lentes negras. Se ainda se servissem drinques a bordo teria tomado coragem de cumprimentá-la. Perspectiva de sexo, mesmo que alheio, sempre é animadora.

Fiquei pensando naquela máxima "onde se ganha o pão não se come a carne", que acho muito mentirosa, mesmo porque todos que vi alardeando esse papo sempre foram os mais galinhas, aqueles que fervem em cima de coleguinhas. Depois acho complicado em um lugar onde tem gente disponível ou não, unidos pela mesma profissão, com interesses em comum, não pintar nenhum tipo de atração. E o que é que tem demais namorar gente que trabalha com a gente?

As empresas deveriam estimular esse tipo de contato. As pessoas ficam muito mais motivadas, com muito mais disposição para marcar cartão de ponto, além de andarem mais produzidas com a perspectiva de seduzir alguém em um lugar que na maioria das vezes é cenário de tarefas chatas e repetitivas. Os consultores de negócios ganham fortunas para ensinar fórmulas de auto-ajuda que no fundo querem é fazer com que os trabalhadores abracem a camisa da empresa, o que quer dizer maiores lucros e maior produtividade. Por que não juntar o útil ao agradável, liberando simplesmente a libido?

Não estou defendendo bacanais profissionais, longe disso, mas treta sempre rola, ainda que sob proteção da hipocrisia. E gente que tem muita coisa em comum, como é o caso de colegas, acaba muitas vezes encontrando seu par ali mesmo no guichê ao lado, o que novamente favorece a empresa. Ninguém vai querer perder emprego se partir para um compromisso estável, menos ainda se envolver filhos, o que acarreta maior dedicação. E ao invés de encerrar o expediente na hora aprazada, normalmente ele continua dentro de quatro paredes. Ou alguém tem alguma dúvida de que as conversas sobre o Jornal Nacional entre o casal 20 da Globo, a Fátima Bernardes e o William Bonner, acabam quando eles dão o boa noite e vão para casa? No táxi de volta para casa fiquei torcendo para que a aeromoça feiosa tenha conseguido alçar altos vôos.


Nota do Editor: Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra. É autora do livro "Os florais perversos de Madame de Sade" (Editora Rocco).

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