09/09/2025  12h30
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Crônicas
26/04/2008 - 17h02
Domingo de Páscoa
Juarez José Viaro
 

Era almoço de Páscoa. Numa mesa de canto, num restaurante por quilo, Agenor comia espaçadamente, olhando para o nada. Camisa bege com gola engomada, o chapéu panamá, quase branco, depositado sobre a mesa no lado oposto, duas cadeiras vazias em seu lado esquerdo e direito e à frente, encostada na cadeira vazia, sua bengala com o pequeno busto de sua falecida esposa como empunhadura, olhando para ele.

A família se fora. Os dois filhos, que não ocupavam as cadeiras laterais, viviam suas vidas. A mais velha se formara em medicina e fora morar nos Estados Unidos. O mais jovem, sempre mais rebelde, era produtor musical de alguma banda de rock, viajando para turnês em alguma cidade do interior.

Agenor demoradamente terminou seu almoço de Páscoa. Podia esperar que algum dos dois ligasse para desejar Feliz Páscoa. Mas Agenor não tinha celular, não se acostumava com essas maquininhas modernas. Se ligaram em casa, no telefone fixo, Agenor não saberia. Também não tinha secretária eletrônica. Apenas a vida e as lembranças de Matilde, aquele busto que fitava na ponta da bengala.

Terminado o almoço, Agenor levantou-se com dificuldade e dor, lembrando-se de seu reumatismo. Voltou ao balcão dos pratos e escolheu uma sobremesa, gentileza da casa. Demoradamente também experimentou aquele doce de abóbora quase igual ao que Matilde fazia aos domingos.

Depois, levantou-se outra vez, apanhou o chapéu e cobriu seus ralos cabelos brancos. O garçom se aproximou e ainda lhe entregou a bengala, sem atinar para a cabeça de Matilde que desaprovava o gesto do intruso. Caminhou até o caixa, pagou e, acariciando a cabeça de Matilde, como fazia todas as tardes de domingo, quando ficavam a sós frente à televisão, encaminhou-se para o Shopping Center. As lojas ainda fechadas, as vitrines com luzes apagadas e os manequins sombrios e estáticos exibiam as roupas que estariam na moda naquele outono/inverno.

Agenor caminhou lentamente pelos corredores do shopping, sempre apoiado em Matilde, o amor de 40 anos de sua vida.


Nota do Editor: Juarez José Viaro é jornalista e escritor. Publicou o livro de poemas "Aroma de Amora" e participou de movimentos literários em Osasco e São Paulo. Tem um romance inédito, "Viagem ao Interior".

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CRÔNICAS"Índice das publicações sobre "CRÔNICAS"
31/12/2022 - 07h23 Enfim, `Arteado´!
30/12/2022 - 05h37 É pracabá
29/12/2022 - 06h33 Onde nascem os meus monstros
28/12/2022 - 06h39 Um Natal adulto
27/12/2022 - 07h36 Holy Night
26/12/2022 - 07h44 A vitória da Argentina
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.