09/09/2025  12h45
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Crônicas
27/04/2008 - 09h11
Um domingo qualquer
André Falavigna
 

Domingo passado foi um domingo diferente, todo preenchido por eventos interessantíssimos. Vistos do Cambuci, esses domingos são ainda melhores.

Sim, jogaram Palmeiras e São Paulo. Como o Palmeiras perdeu do modo como perdeu, não tive tempo para me irritar. Após meia dúzia de imprecações do mais medonho calão contra a insólita figura de Paulo César de Oliveira e sua estranha assistente, conformei-me. Nada está perdido, afinal. E, desta vez, a coisa se deu no primeiro jogo. Muito pior é o que ocorreu com Wilson de Souza Mendonça, na Libertadores de 2006. Ali, não havia volta.

Por outro lado, dei por bem entregar-me a alguma atividade improdutiva, relaxante e um tanto quanto bocó: assisti a bons pedaços do concurso que elegeu a Miss Brasil 2008. Trata-se de um evento curioso. Não, não acho machista. Reunir-se para escolher a mulher que melhor corresponda a certos quesitos não é bem machismo: é só perda de tempo, mesmo. Nenhuma mulher é tratada de maneira mais ou menos respeitosa porque algumas pessoas promovem concursos de beleza. Isso é tolice. Os homens não são vistos como panacas hipertrofiados só porque exista o concurso de Mister Universo. Só aqueles que participam do concurso. Ninguém jamais olhou para mim influenciado pelo modo como Arnold Schwarzenegger se tornou famoso. Ninguém que se dirija a Derma Roussef pensa em Renata Fan. E Renata Fan está longe de ser o estereótipo da mulher fátua, tola e semi-retardada que se costuma atribuir às Misses (esse é mesmo o plural de Miss?).

Não sei se é sempre assim, mas neste ano a celebração consistiu, basicamente, num festival de atos falhos, equívocos involuntariamente cômicos e situações constrangedoras. O casal que apresentava o programa chamou ao palco Adalgisa Colombo, Miss Brasil de 1958. O rapaz, cheio de precauções, tratou-a por "senhora". A referida senhora não gostou e o admoestou até com certo rigor. Encabulado, o anfitrião deu por bem escusar-se deste modo:
- Desculpe então!

Assim mesmo, sem vírgula. Ouviu-se, som de cristal, o clássico cacófato que se costuma fazer seguir ao não menos famoso "Tem culpa eu?". Só faltou alegar que havia "chegado a pouco de fora". Mais adiante, a Miss Espírito Santo respondeu da seguinte forma à pergunta acerca de quais seriam seus maiores desafios caso vencesse o prélio:
- Olha, no meu caso vai ser o Teste da Boca!

Isso mesmo. O Teste da Boca. Uma pena que a entrevista era bastante rápida e ficamos todos sem saber dos detalhes que cercam tal avaliação, sem dúvida fundamental para a verificação dos melhores dotes da candidata. Creio que as outras concorrentes não passaram pelas mesmas dificuldades ou, então, deram-se melhor nos testes que se prestavam a qualificar-lhes outras funcionalidades, porque a moça foi eliminada em seguida. Uma injustiça, diga-se de passagem. Aliás, quase todas as eliminações foram injustas.

Reparei que, ao contrário das modelos, as Misses precisam ser muito, muito gostosonas. Nada de varapaus sem cintura. Muitos e muitos glúteos poderosos, seios arrogantes e troncos desenhados, belíssimos. Incrível: as Misses parecem mulheres, e não radiografias! Sob esse aspecto, achei a coisa muitíssimo mais saudável do que os desfiles de moda. A Jovem Esposa, sentada ao meu lado, compartilhou dessa minha opinião. Inclusive, pude descobrir mais isso: se você puder manter a compostura, perceberá que pode acompanhar todo o evento sem colocar a integridade física e matrimonial em risco. Há algo de lúdico naquele ritual exótico que torna permissíveis comportamentos que, na praia, por exemplo, costumam resultar em hecatombes.

Finda a disputa, vencida pela Miss Rio Grande do Sul, passei às mesas redondas de futebol-debate. À uma delas, a da Gazeta, compareceu Armando Marques, digo, Paulo César de Oliveira, que justificou seu erro grotesco fazendo uma opção pelo desrespeito à inteligência dos homens de bem: disse ele, Marques, digo, Oliveira, que interpretou o lance de modo a ver em Adriano a intenção de cabecear e o toque de mão como acidental. Ninguém se lembrou de perguntar-lhe quantas vezes ele, Armando, digo, Paulo César, viu um jogador atirar-se à bola com o punho cerrado e, sem notar, completar todo o movimento necessário ao contato com a bola para, ainda assim, disso obter um resultado presumivelmente acidental. Mas eu me lembro agora de dizer-lhes que ambos, Paulo César de Marques e Armando Oliveira, estão inocentes nestas histórias tão distantes e tão próximas:

Se Paulo Marques de Oliveira, em 2008, entende que Adriano teve a intenção de cabecear, e por engano anatômico estapeou a bola, Armando César poderia alegar que, em 1971, entendeu que Leivinha quis mesmo é estapear a bola.

A cabeçada é que foi acidental, compreendem?


Nota do Editor: André Falavigna é escritor, tendo publicado dezenas de contos e crônicas (sobretudo futebolísticas) na Web. Possui um blog pessoal, ofalavigna.blog.uol.com.br, no qual lança, periodicamente, capítulos de um romance. Colabora com diversas publicações eletrônicas.

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CRÔNICAS"Índice das publicações sobre "CRÔNICAS"
31/12/2022 - 07h23 Enfim, `Arteado´!
30/12/2022 - 05h37 É pracabá
29/12/2022 - 06h33 Onde nascem os meus monstros
28/12/2022 - 06h39 Um Natal adulto
27/12/2022 - 07h36 Holy Night
26/12/2022 - 07h44 A vitória da Argentina
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.