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Crônicas
28/04/2008 - 13h02
O padre voador
Ruth Barros
 
Contos da Mula Manca

Em que mares nunca dantes navegados, como diria Camões, estará agora voando o padre que se amarrou a mil balões de festa? Devo confessar que até dar de cara com esse Icaro reeditado e, igualmente, mal-sucedido, eu achava que voar desse jeito era enredo de história em quadrinhos ou de comédias filmadas pelo mundo Disney. Para minha surpresa não só se leva a sério como é objeto de recordes, como o que queria bater o padre Adelir de Carli que, com o perdão do trocadilho, deu com os balões na água.

Até a hora em que escrevo, o único vestígio que sobrou de tão estranha aeronave foram uns pedaços de plástico resgatados pelas equipes de salvamento. O padre provavelmente se elevou a outros céus impalpáveis, que os companheiros de fé conhecem como paraíso. E me fez lembrar de outro companheiro de fé, também padre, e também voador, que é uma das figuras mais interessantes da história brasileira, o jesuíta Bartolomeu Lourenço de Gusmão. Como ele costuma ser esquecido e a Mula Manca também é cultura, vou aqui dar uma pequena pala sobre o religioso que, ao invés de se acabar na água, como o colega, quase acabou no fogo - escapou por pouco de ser queimado pela Inquisição pelo crime de abordar coisas como propulsão e aerodinâmica, que contrariavam os dogmas da Santa Madre.

Nascido em Santos, Gusmão criou o primeiro aeróstato do mundo, um balão chamado Passarola e demonstrou sua invenção em Lisboa, em 1709. Ele foi o primeiro que a história registra como padre voador, pelo menos literalmente, mas o balão não era tripulado, apenas se ergueu no ar, o que para época já foi mais que suficiente para mentes mais tacanhas terem creditado a invenção ao diabo. Esse fato, aliado a uma possível origem judaica, pois os estudos mais recentes revelam que Gusmão foi um nome adotado pela família para esconder o de cristão novo, o colocou na mira da Inquisição. Para fugir a seus tentáculos, refugiou-se na Espanha, onde adoeceu, morrendo na miséria, aos 39 anos.

José Saramago aproveita a história de Gusmão em seu belo Memorial do Convento, que aconselho mesmo a quem não se interessa por prelados aéreos. Os engraçadinhos da internet, mais rápidos que Saramago, já estão divulgando a história do padre do Paraná. Já recebi e quem não recebeu deve estar na mira, a notícia de que há mais um brasileiro no seriado Lost, onde atuou Rodrigo Santoro. Atrás da foto do elenco, fizeram uma montagem com o padre Carli subindo aos céus a bordo de seus mil balões. Espero de todo coração que ele tenha conseguido.


Nota do Editor: Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra. É autora do livro "Os florais perversos de Madame de Sade" (Editora Rocco).

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