“Há muito tempo a pesca foi cuidada de forma marginal pelo poder público, faltou-lhe legislação adequada, crédito específico, estabilidade gerencial e ordenativa mas, acima de tudo faltou por parte do Estado, uma visão de negócio. Uma sucessão de equívocos por parte da sociedade brasileira na administração da pesca como atividade econômica e de seus participantes como grupo social. Faltou educação formal e profissional para um grupo que tinha atividade definida. Com a ‘proteção’ que receberam do Estado foram em primeiro instante segregados e nessa condição continuaram analfabetos e não evoluíram na tecnologia que a modernização da sociedade exigiu deles. Analfabetos e sem força econômica ou política foram expulsos de suas terras pelo avanço imobiliário e pela ignorância, que aliados transformaram a maioria de suas colônias em favelas. Quando foi criada a SUDEPE na década de 60 foram os pescadores segregados ao invés de integrados. Linhas de crédito a fundo perdido,criação de cooperativas artificialmente implantadas onde não havia mínima noção de associativismo e inúmeras estruturas pelas praias do Brasil sem a devida instituição de programas de sustentação. Mais crédito para a construção de barcos, que barcos? que estaleiros? Não importava o que importava era pegar o dinheiro e fazer qualquer coisa moderna. O prejuízo maior foi impedir a formação de uma sociedade pesqueira com tradição e competência forjada na vivencia” - Esmola, a quem vicia? - Sérgio Pinho, engenheiro de pesca. O principal motivo da criação de áreas marítimas de preservação ambiental é combater ações de pesca predatória, a primeira medida é proibir a pesca de arrasto por parelhas, segundo o secretário de Meio Ambiente. Canetas prontas para assinar o decreto no Dia Mundial do Oceano (08 de junho). Apontar a pesca de parelha como vilã da pesca predatória deixa a impressão de pouco conhecimento ou tentativa de maquiar a coisa. Com regularidade barcos atuneiros a procura de iscas levam todo comidio impactando a cadeia alimentar; a poluição provocada pelo esgoto derramado criminosamente nos rios, os aterros sanitários, o desmatamento e conseqüente contaminação das nascentes entre outros tantos deveriam ser lembrados, fiscalizados e punidos. A proteção do Estado sempre é bem-vinda quando coerente e traga a lição de casa feita. Áreas de preservação, áreas de proteção e parques estaduais já temos em quantidade suficiente, sabemos como funcionam na prática e como deveriam funcionar na teoria. Situações do dantesco ao hilário acontecem com freqüência. O caso da ilha Anchieta na qual foram introduzidos mamíferos alguns estranhos à Mata Atlântica, que estão causando desequilíbrio ecológico alarmante na ilha, ou então o cadastramento realizado pela direção do PESM para conhecer quem esta trabalhando no parque e como os serviços estão sendo conduzidos, podem ser citados. Existem os que defendem a pesquisa e ignoram ou esquecem que temos um centro de pesquisas base do litoral norte, que muitos por aqui passaram pesquisando peixes, aves, répteis, caramujos, vertebrados, mamíferos, plâncton, água, nuvens, terra, areia, flora crustáceos... Fica a pergunta: qual foi a contribuição ecológica e econômica que a preservação e conservação através de pesquisas (com dinheiro público) trouxe ao município? Não soa simpática a fala do secretário Xico Graziano afirmando que se nas negociações para a implantação das APAs não houver consenso ele irá arbitrar, “não somos uma secretaria de comunidades tradicionais, somos a Secretaria de Meio Ambiente”. Mas simpático ou não, sendo assim tão poderoso, que mostre toda sua força e boas intenções, mostre a que veio, dê apoio técnico e financeiro para a preservação e conservação do meio ambiente, valorize as comunidades tradicionais, forneça meios para o desenvolvimento e fortalecimento da polícia florestal, participe na preservação e manutenção dos recursos hídricos e com a força de sua caneta, de uma penada, acabe com o derrame dos esgotos. Caso contrário... Não serão seis barcos equipados com radar que resolverão o problema desse imenso litoral que se estende de Cananéia até a ponta da Trindade e que navegarão somente até o dia que necessitarem da primeira manutenção, ou acabe a verba do combustível.
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