Ariovaldo escutava sempre a mesma frase de seus conhecidos: “reage homem!”, é o que eles diziam. E falavam com razão. Tinham pena do pobre homem, que não reagia a nada. Sua mulher vivia brigando com o pobre infeliz, xingando-o e fazendo ele padecer em suas mãos. Muitos já teriam virado a mesa e feito a megera se calar, mas não o Ariovaldo. Ele não reagia aos desmandos de sua esposa, agüentando calado sua triste sina. No serviço não era diferente. O seu chefe maltratava o coitado. Mandava-o executar as piores tarefas. Gritava com ele. Era grosseiro e estúpido. Os colegas sacudiam a cabeça ao ver aquela situação deplorável. Indignavam-se. Chamavam o Ariovaldo em um canto e diziam, quase em coro: “reage homem!”. Mas ele nada fazia. Suportando a tirania de seu chefe. E assim, era a vida do Ariovaldo. Sofrer calado. Sem reagir a nada. Todos pisando nele, e ele deixando. Revidar, nem pensar. Até o dia em que resolveu reagir. Sua reação foi mais que um ato de coragem, sendo considerada como um ato suicida, por ter reagido justamente a um assalto. O ladrão apontou a arma para ele e mandou-o entregar a carteira. Ele arregalou os olhos como se estivesse tomado de cólera, avançando contra o meliante que gritava: “Não reage! Não reage!”. Resultado: Levou três tiros. No caminho para o hospital, dentro da ambulância, os enfermeiros tentavam salvar a sua vida, aplicando medicamentos, choques e gritando: “reage homem!”. Mas Ariovaldo já estava decidido: Não reagiria mais... Nota do Editor: Antonio Brás Constante (abrasc@terra.com.br) é escritor.
|