Hoje é 1º de Maio. Tá, não é, mas, como este é um texto ficcional, aqui tudo pode ser. Então é isso: a primeira afirmação é a que vale. Hoje é 1º de Maio. Dia do Trabalho, eu, caixa de supermercado, estou aqui, no mercado. Comemorando? Não! Festa? Menos! Aliás, nem folga e nem hora-extra eu vou receber por vir para cá. Trabalhar. Bosta, eu tenho que registrar a compra dessa madame com cara de puta. Lasanha outra vez. Aposto que essa vagabunda não sabe cozinhar. Não que eu saiba, mas feriado, ninguém, absolutamente ninguém deveria trabalhar. É isso. Ainda mais sem hora-extra. Meu chefe, este é um caso a parte. Dia desses, ele estava lendo “O Monge e o executivo”, lindo livro, muito bonito mesmo. Eu até fiquei com vontade de entrar num retiro espiritual. Só não vou porque não quero. Tudo bem, na real, é porque eu não tenho dinheiro, mas, como este é um conto, vale a primeira afirmação. Pena que meu chefe não adotou o que aprendeu com o livro. Se é que dá para se aprender alguma coisa com esses livros de auto-ajuda. Frases sobre o trabalho: uma vez aqui na Augusta, ali na frente do Unibanco Arteplex, eu vi uma camiseta escrita assim: “Hoje não vou trabalhar, por tão pouco não vale a pena”. Desde então, acordo todos os dias com esse pensamento. Mesmo assim eu vou trabalhar, porque fazer a feira é necessário, né? Mais uma frase: o trabalho dignifica o homem. Na verdade dignifica porra nenhuma, mas como este é um texto ficcional, vale a primeira afirmação. Nota do Editor: William Magalhães é jornalista.
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