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Opinião
02/05/2008 - 08h02
Brasileños, go home!
Mario Guerreiro - Parlata
 

É simplesmente inenarrável o cinismo e a desfaçatez do Ministério das Relações Exteriores (e Contatos Superficiais) deste calamitoso país chamado Brasil! É uma dessas coisas capazes de fazer os ossos do venerável barão se agitarem na tumba! [Advirto que não estou ironizando]. Para os sem história e não-iniciados: refiro-me ao ilustre Barão do Rio Branco, habilidoso negociador de nossas fronteiras em dias de antanho. E mais adiante, veremos porque seus ossos estão se agitando freneticamente...

Mas por que falo eu em "cinismo e desfaçatez"? Porque, desde os malfadados tempos da "política externa independente" do insaudoso San Thiago Dantas, o referido Ministério - também conhecido como o Itamaraty - vem desempenhando uma política externa assaz ambígua: um beijo numa face e um tapa noutra, ou seja: por um lado prega a solidariedade sul-americana de países irmãos e afaga todos los hermanitos. Por outro, exerce um implacável imperialismo econômico sobre nações pobres e indefesas como a Bolívia, o Equador, o Paraguai, usw. Que exploradores desalmados!

Vejam por exemplo o que a braspetro - este é o nome da poderosa transnacional petrobras atuante n’América do Sul e n’África - fez num país paupérrimo como a Bolívia: construiu, com capital inteiramente próprio, duas refinarias de petróleo, estava sugando o ouro negro e obtendo seus derivados do solo pátrio do explorado povo boliviano.

Isto até o momento em que um hombre muy macho, um autóctone nacionalista, Evo Morales, acabou com a execrável exploração dessa empresa capitalista brasileira. Pôs para fora aqueles malditos imperialistas brasileños que - sob alegações pífias tais como fornecer muitos empregos aos bolivianos, concorrer para o aumento do PIB daquele país pagando altos impostos etc. - estava mesmo é sugando as riquezas dos bolivianos com a insaciável voracidade de um vampiro mercantilista. Perro de los infiernos!

E não cabe a alegação de que a braspetro teve um prejuízo de cerca de R$ 2.000.000.000,00 [dois bilhões de reais!] com a encampação de suas duas refinarias, uma vez que o-marido-de-Eva-que-não-é-Adão pagou "preços justos" por ambas: cerca de mais de 10 vezes menor do que a empresa hipocritamente alegava ser o valor de mercado das mesmas.

E como o governo brasileiro acabou reconhecendo que Evo tinha toda a razão de pagar o que pagou, andam dizendo por aí que Lula não estava defendendo os interesses nacionais, mas sim os do comunismo internacional capitaneado por Hugorila Chávez e tendo como patrono El Coma Andante Fidel Castro. Aí então, Rafael Correa, o novo Presidente do Equador, decidiu rever seus contratos de exploração de petróleo com os vis imperialistas brasileños. Tinha ele seus bons motivos para achar que estava também sendo vilmente explorado por empresas capitalistas brasileiras. Yankees, go home! Perdão: Brasileños, go home!

E quando a direita ainda fica dizendo por aí que a política externa do Brasil está vendendo o país aos retalhos e jogando seu dinheiro fora... Quando, por exemplo, Lula perdoa a dívida de Moçambique - por alto: uns R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais!) - num admirável gesto de caridade cristã e de pleno acordo com a economia solidária do economista Paul Singer (PT) - espíritos levianos e açodados mostram-se incapazes de perceber que nosso Presidente está procurando formar um Bloco do Terceiro Mundo, para se contrapor a alca e ao Mercado Comum Europeu, como também conquistar eleitores a favor de um assento para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU, coisa, aliás, exigida por nosso status de grande potência no concerto das nações. E pensar que já chegam mesmo ao ponto de chamar Lula de "alpinista social" "grande pelego", "vendilhão da pátria", "reles entreguista"! Que grande despautério, se levarmos em consideração que ele está só pensando na grandeza de sua nação, e não em encher o seu bolso!

A direita fica ainda levianamente dizendo que o Brasil tem sido tíbio e pusilânime em sua política externa, que tem aberto indesejáveis precedentes em nome de uma fictícia solidariedade latino-americana e em seu pretenso papel de "líder" da América do Sul. Quanta bobagem! Os países do referido Continente nutrem profunda admiração pelo gigante adormecido em berços esplêndidos e o aceitam de bom grado como seu legítimo líder natural, apesar do IDH brasileiro - com milhões de analfabetos funcionais, poucas cidades com saneamento e um "grande hospital sem hospitais" - ser mais baixo do que o da Líbia do raivoso ditador Khadafi. E com uma carga tributária escorchante maior do que a da Turquia!

Na realidade, o governo de Lula faz um jogo duplo: um beijo numa face e um tapa noutra, ou seja: por um lado clama contra o domínio econômico dos países ricos sobre os pobres e se apresenta como o grande líder da América do Sul - papel que o muy celoso Hugorila Chávez não engole de jeito e modo nenhum! - mas, por outro, não perde a oportunidade de sugar o sangue de "as veias abertas da América Latina", para usar a conhecida expressão de Galeano, título da Bíblia do idiota latino-americano.

Vejam por exemplo o caso do Paraguai. Este país pobre país fez um péssimo negócio com o Brasil: suspeita-se até que foi um ótimo negócio, mas tão-somente para seus negociadores de ambas as partes de então recebendo no mínimo 20% de jabazinho, vendilhões da pátria que eram. E assim foi construída a Itaipu Binacional - a maior usina hidrelétrica do mundo, dizem!

Foi um negócio semelhante ao da Ponte da Amizade, em que Brasília entrou com a ponte e Asunción com a amizade. Mas no caso de Itaipu, a eletrobras e o bndes emprestaram dinheiro ao Paraguai, que não tendo como pagar em dinheiro nem em um século de poupança interna, passou a pagar fornecendo grande parte de sua cota de energia para o Brasil e cobrando um preço baixíssimo pela mesma. Dizem os farsantes capitalistas que se trata do "preço no mercado internacional", mas na realidade é um "preço de banana"! Só não entendo por que os que protestam tanto, sob a alegação de preço vil, contra a privatização da Vale não se manifestam contra o preço vil pago pela braspetro? Mistério Profundo!

É fato que o Paraguai não consumirá nem sequer um décimo da energia a que tem direito nos próximos 100 anos, mas isto não quer dizer que esteja abrindo os braços para o céu por ter quem queira comprá-la na bacia das almas.

Agora o novo presidente do Paraguai - uma espécie de ex-frei Bofe daquelas bandas, fervoroso acólito da "progressista" Teologia da Libertação que é - está reclamando de uma cláusula leonina no contrato feito com o Brasil e quer, no mínimo, um bom aumento da tarifa. E nosso preclaro chanceler, Excelso Amorim, já disse que o Brasil deve ser "generoso" com o Paraguai e não se mostrar um reles "imperialista", isto é: deve abrir novamente as pernas para o cacique dos pobres guaranis como já as abriu prazerosamente para um morubixaba do Altiplano, a saber: o tal de Primevo Inmorales. Afinal de contas, a América do Sul é de seus autóctones, não de seus cruéis colonizadores europeus, que se apossaram do Continente. Anauê! Anauê!


Nota do Editor: Mario Guerreiro é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).

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