Crônicas de um jovem vendedor
Sempre que perguntavam o que Fernandinho Ignácio Cardoso da Silva queria ser quando crescesse ele logo respondia: - Adulto, ué! Dããã! Aí o honorável questionador reformulava a pergunta: - Eu sei, engraçadinho, mas no que você sonha em trabalhar? Aí ele completava: - Ah, bom. Eu quero ser lixeiro! - Por quê? - Retornava o honorável. - Para poder andar de caminhão o dia inteiro! Mas logo no início daquela quarta-feira nublada ao sentar-se para o café Fernandinho Ignácio foi logo disparando sem dó nem piedade: - Decidi! Quero ser vendedor quando crescer! O seu pai Luizinho Washington ficou boquiaberto e com um ar de deboche respondeu: - Você ouviu isso Nely Maria? Nosso filho quer ser vendedor! - Deus me livre! Não quero um filho mal falado na família. Já pensou o que minha mãe irá dizer? Fernandinho Ignácio explicou que por aqueles dias estava acontecendo a Semana das Profissões no colégio e a que mais lhe chamava a atenção era a de vendedor por causa das viagens e prêmios que o pai do seu amigo Zequinha Dirceu havia ganhado. Luizinho Washington lhe disse que pra isso nem existia faculdade e que ele podia ser outra coisa. Ele sugeria e Fernandinho Ignácio respondia: - Que tal médico? - Detesto sangue pai! - Então político? - Não é feio ser mentiroso? - Engenharia da Computação? - Pai, eu gosto de gente. - Pai, mãe, vocês não estão entendendo. Eu quero ser VEN-DE-DOR! Luizinho Washington como última alternativa e percebendo a gravidade da situação declarou: - TUDO MENOS VENDEDOR! Já sei! Vou mandar benzer esse moleque. - Benzer como? - Benzer ora. Benzer benzendo! A benzedeira disse que uma reza bem-feita tirava essa idéia maluca da cabeça do garoto. Sugeriu que benzessem o gurizinho por três dias seguidos sempre no mesmo horário e com a mesma cueca com dólar na estampa. No último dia ao pegar o rebento, Nely Maria notou que a benzedeira ao se despedir de nosso herói tinha umas rifas na mão direita. - Mas o que é isso na sua mão? - Umas rifas que comprei de Fernandinho Ignácio. Tem cada conversa esse menino! Nely Maria pensou, mas só pensou: - Ai Jesus! Moral da história: estimule e aprimores sempre os dons. Sejam seus, dos seus filhos, colegas ou até da sogra. Vendedor de verdade não tem vergonha da profissão. E ponto final. Nota do Editor: Paulo Araújo (www.pauloaraujo.com.br) é escritor e conferencista. Administrador de Empresas, pós-graduado em Marketing e em Gestão pela Qualidade e Produtividade.
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