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SEÇÃO
Crônicas
04/05/2008 - 08h10
Original e cópia
Daniel Santos
 

Noutro dia viram Glenda na porta do cinema. Trazia um pulôver sobre os ombros e comia pipocas de maneira quase displicente como uma dessas que têm as tardes livres, enquanto olhava fotos do filme em cartaz.

Embora ainda bela, nem de longe lembrava a modelo que, apenas meses atrás, despontara em passarelas do mundo inteiro e estampara seu rosto na capa das principais revistas de moda, para o deslumbre de todos.

Sua expressão de máxima ansiedade sugeria que esperava eventual acompanhante, mas quem testemunhara o declínio de sua carreira não se enganou: sozinha no cinema, Glenda era simples fã da atriz principal.

Desde que deixara o mundo dos desfiles, refluiu rapidamente ao anonimato e parou de lançar moda. Ninguém mais seguia seus passos. Ao contrário, ela, sem o anterior prestígio, é que se espelhava na tal artista.

A ruína - entende, agora - começou na noite em que trabalhou madrugada adentro, enquanto fotógrafos registravam detalhes de seu rosto e de seu corpo, logo reproduzidos por softwares de escusas intenções.

É que, a partir desses detalhes, deram à original Glenda novas formas com inéditas tonalidades. As cópias proliferaram à sua revelia e com maior sucesso que a matriz - afinal, obsoleta, sem autoridade.

Desde então, persegue quem lhe vai na vanguarda, e não apenas em virtude da ânsia veloz em que se intrometeu. Pretende, ainda, uma revanche contra quem lhe furtou os signos de uma novidade; hoje, fato.

Mas não sucede. A quem atacar? - cisma, enquanto observa entre satélites que imagens de si mesma (umas ruivas, outras louras, negras até!) dispersam-se pelo cosmo como estrelas aflitas que se sabem fugazes.


Nota do Editor: Daniel Santos é jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de O Estado de S. Paulo e da Folha de S. Paulo, no Rio de Janeiro, além de O Globo. Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.

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