As relações familiares têm sofrido tal processo de distanciamento e resfriamento, que, mórbida ironia, algumas mães nem percebem que seus filhos “moram” no porão, enquanto outras os colocam no “freezer”. Coisas do materialismo econômico que, coerente com o projeto de desagregação da família, celebra de forma fragmentada cada um dos elementos da família. Mas essas datas, apesar do forte apelo comercial, têm seus méritos. Um deles é lembrar alguns filhos de que têm pais e mães, e alguns pais e mães, de que têm filhos. É certo que o mundo mudou de forma avassaladora. As relações humanas tornaram-se mais liberais e furtivas. Essas mudanças eram necessárias, mas alguns as levaram aos limites do egoísmo e da inconseqüência. O “amor-livre” teve efeitos tão devastadores quanto as rígidas convenções morais, machistas, que o antecederam. Ambos geraram, com raras exceções, legiões de filhos do desamor, muitos dos quais descontam suas frustrações no mundo. Nesse contexto, a figura materna permaneceu como um dos últimos baluartes na luta contra a desumanização da sociedade. A diferença é que hoje as mães também são profissionais arrojadas, especialistas na alquimia da competência com a sensibilidade. Sempre foram, aliás! O mundo exige isso delas, embora alguns ainda as queiram ignorantes, submissas a regras antigas, que as culpam e punem pela fraqueza moral e estupidez dos homens. Homens que só querem delas prazer e descentes, muitas vezes para deixarem morrer em guerras imbecis. Dar à luz é um dos atributos do “sagrado feminino”! Mas existem mães adotivas capazes de amar muito mais do que as naturais. O sagrado está, sim, na possibilidade de gerar vida; mas o divino está em criar e educar um ser humano. E muitas o fazem sozinhas, às vezes esquecendo de si próprias. Não é fácil conciliar tantas cobranças e desejos. É preciso dar e receber muito amor para isso, o que explica a dificuldade em encontrar mulheres que consubstanciem esse misto de humano, sagrado e divino! Homens, então: normalmente somos um caso perdido. Mas às vezes a gente dá essa sorte; e é, até, muito fácil encontrar essas qualidades na mãe da gente. Mas eu também as encontro em outra mãe, mulher que também consegue fazer e ser essa mágica, antiga e moderna, que para ela não tem segredos. Bonita, inteligente e dinâmica, ela concilia mil atividades pessoais complexas com a educação do filho; e ainda mantém, sem o menor esforço, o marido apaixonado. Para seus dois homens ela é divina, sagrada e maravilhosamente humana. Apenas sua presença já é luz, carinho e bálsamo, que eles tentam merecer e retribuir. Assim é Cecília, esposa de Adilson e mãe de Guilherme: caras de sorte! Para eles, todo o dia é das mães, pois todo dia é dia, quando a gente ama. Mas, já que fixaram um: Feliz Dia das Mães para quem, de fato, o é! Nota do Editor: Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro, professor universitário (UNISANTOS e UNISANTA) e compositor. Mestrando em Educação (UNISANTOS). E-mail: prof_adilson_luiz@yahoo.com.br.
|