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SEÇÃO
Crônicas
10/05/2008 - 06h02
Os reis do papel
Renan Oliveira
 

Fui resolver alguns problemas particulares no Centro. Depois de resolvido, fui a pé em direção à Biblioteca Nacional, onde trabalho, pela Avenida Rio Branco. Numa caminhada de uns 20 minutos, vim pensando no que escrever. Creio que meu faro de cronista está começando a ficar aguçado - talvez eu esteja ficando maluco, prestando atenção em detalhes insignificantes - ou meu inconsciente me fez de andarilho propositadamente, na caça a algum fato que pudesse chamar minha atenção. E de fato isto ocorreu.

Ainda bem, pois senão vocês não teriam o que ler, certo? Logo explico o título acima. Não falarei dos chineses (possíveis inventores do papel há 2 milênios) nem dos papiros egípcios. Estava andando pela calçada que fica ao lado direito do trânsito. Sem nada muito relevante em que pensar (só um cisco que incomodava meu olho direito), comecei a notar os panfleteiros na Rio Branco. Mas que raça hein?! Que pessoas inconvenientes!

Resolvi na hora fazer uma média. O resultado foi, sem exagero, que eu encontrava um novo entregador de papel a cada dez passos. E o que eles entregam (ou tentam), 90% é de empréstimo de banco e os outros 10% são relativos ao comércio de corpos. Vez ou outra, em época de eleição, os números supracitados variam, por terem que dividir as estatísticas com "santinhos".

Além de contaminarem as ruas da cidade, matam muitas árvores à toa (ainda vou levantar uns dados para saber quantas entram na serra elétrica), pois a cada 10 pessoas que passam pelos entregadores, 9 não pegam. E o único ser que apela ou é um pobre coitado, desesperado atrás de grana, ou um tarado que quer se aliviar. Não tem jeito. Tarado ou endividado (como podemos conhecer a privacidade das pessoas por causa de um simples papel, não é?).

Tudo bem que grande parte da população vive do trabalho informal. Mas esses entregadores são tão azucrinantes e oferecidos quanto engraxates ou limpadores de vidros. Não caia no erro de tentar ser atencioso. É pior. Eles lhe forçam, obrigam você a pegar o papel, ter os sapatos engraxados ou os vidros de seu carro limpos. Como foi o caso de um amigo meu, semana passada, que quase partiu para agressão por causa de um desses da vida.

O engraxate argumentou que era melhor estar naquela vida do que roubar e matar. Concordo. Mas por causa disso, todo mundo é obrigado a engraxar com ele? Daqui a pouco eles anunciam: "Olha a graxa, se não quiser eu viro (ou volto a ser) criminoso". Isso não é desculpa. Meu amigo, assim como eu, trabalha com comunicação. Eu, particularmente, tenho que fabricar e vender coisas que não se compram; notícias. Ou seja, tenho que ganhar os compradores pelo argumento. E se ninguém mais quiser "comprar" meu texto? Vou ameaçar editores e repórteres?

Voltemos ao assunto principal: "os entregadores de papel". Será que os responsáveis (não os panfleteiros propriamente ditos) acham eficiente esse tipo de propaganda? Será que isso dá um bom retorno? Talvez o único lado bom disso tudo é o sustento de garis. E o ruim, já disse acima. Mas tem um lado que é péssimo, que me irrita profundamente, e que é a marca registrada dos reis do papel, e que deixei para fechar o texto.

Enquanto meu aparelho auditivo do lado esquerdo se preocupava em enviar ao meu cérebro os estímulos sonoros de buzinas, sirenes e roncos de motores, o direito apenas mandava alguns "flec, flec, flec". Sim! É isso que você está pensando! É aquele barulho infernal de papel triscando no outro (não sei se é flec, flac, só sei que é pior que tortura chinesa), comparável a riscar giz no quadro. E não sei porque cargas d’água eles acham legal ficar fazendo esse ruído. Cacoete coletivo ou é para chamar atenção? Não sei, nem quero saber. O que sei é que os reis do papel me irritam, e fujo deles com diabo da cruz.


Nota do Editor: Renan Oliveira, carioca, 24 anos, é jornalista, radialista e pós-graduando em Gestão Estratégica da Comunicação pela Facha. Trabalha na Assessoria de Imprensa da Biblioteca Nacional e colabora com o site www.palavriando.com.br, e está escrevendo seu primeiro livro de poesias, "Além do Infinito". Já trabalhou nas assessorias da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) e também no Instituto Benjamin Constant. Tem um poema publicado na Antologia de Poetas Contemporâneos vol. 39, da Câmara Brasileira de Jovens Escritores (CBJE).

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