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Opinião
12/05/2008 - 05h37
Psicopolítica e "cura mental"
Maria Lúcia Victor Barbosa - Parlata
 

Ultimamente muito se tem falado em Antonio Gramsci (1891-1937), um dos principais dirigentes do Partido Comunista italiano que preso pelo regime fascista morreu no cárcere em 1926.

Como vários teóricos marxistas do século XX, Gramsci não negou a importância da infra-estrutura, que segundo a teoria de Karl Marx é o modo de produção da vida material, mas ressaltou a importância e o papel da superestrutura que compreende as instituições políticas, o direito, a moral, a religião, as artes, a filosofia, a economia etc.

Para Gramsci a superestrutura possui dois elementos fundamentais: “a sociedade política”, onde se encontra o aparelho de coação e comando, isto é, o Estado ou governo, e a sociedade civil que assenta na persuasão. E se para os revolucionários russos, o essencial era derrubar o aparelho do Estado, para os revolucionários ocidentais o terreno essencial de luta se situa na sociedade civil que sempre aceitou os valores e a ideologia da classe dominante, portanto sua hegemonia.

Entendeu Gramsci que a hegemonia é assegurada por aqueles a quem chamou de intelectuais orgânicos (clero, intelectuais, universitários, tecnocratas), e os trabalhadores somente se afirmariam se conseguissem fazer prevalecer o seu próprio sistema de valores, sua própria visão de mundo, sua própria ideologia. Seria, então, imperativo que aqueles tomassem a direção cultural e moral da sociedade e passassem a ser uma classe dirigente antes de ser uma classe dominante.

Em suma, Antonio Gramsci elaborou uma “estratégia do consentimento” através dos intelectuais orgânicos que são o elemento organizador da sociedade civil. E isto é algo mais eficaz do que a tomada do poder pela força. Seria uma revolução sem armas rumo ao comunismo. Funcionaria como processo corrosivo trabalhado através da persuasão envolvendo mentes e sentimentos.

Sentimentos podem ser induzidos por intelectuais orgânicos e se conquistam com líderes eloqüentes e muita propaganda, coisas que não são difíceis de fabricar porque os homens não oram apenas pelo pão de cada dia, mas também por sua ilusão diária. Isso porque, a maioria vive em circunstâncias de frustração calada.

Ora, pessoas frustradas são mais crédulas na medida em que necessitam de algo em que acreditar. Gente frustrada precisa também de odiar e o ódio compartilhado com outros é a mais poderosa de todas as emoções unificadoras. Naturalmente é fácil odiar uns aos outros através da luta de classes. Estimular o ódio entre classes, raças ou etnias é, portanto, o caminho mais fácil para a conquista e a manutenção do poder.

Todavia Gramsci não foi tão inovador como se pensa.

Lavrenty Pavlovich Beria (1899-1953), ministro do Interior e marechal da União Soviética, executado depois da morte de Stalin, também sabia que nem só de infra-estrutura vive o homem. Sua arma para dominar os incautos, os frustrados, os necessitados de ilusão, na verdade era uma espécie de ciência que ele denominou de Psicopolítica, através da qual se podia obter a “cura mental”, ou algo que podemos chamar de lavagem cerebral.

Para entendermos melhor de Psicopolítica, observemos alguns trechos de um discurso que Beria proferiu para estudantes americanos, na Universidade Lênin:

“Vocês devem trabalhar para que todos os profissionais e professores somente professem a doutrina de ‘cura’ originária no comunismo e nos nossos propósitos”. “Vocês devem trabalhar para que tenhamos o domínio das mentes e dos corpos de todas as pessoas importantes de vossa Nação”. “Vocês devem conseguir tal descrédito pelo estado de insanidade e tal convicção sobre seu pronunciamento que nenhuma autoridade governamental assim estigmatizada possa novamente ter o crédito de seu povo”. “Vocês podem mudar a lealdade das pessoas pela Psicopolítica; podem alterar para sempre a devoção de um soldado, de um governante ou de um líder em seu próprio país; ou vocês podem destruir suas mentes”. “Usem as Cortes, usem os juízes, usem a Constituição do país, usem as sociedades médicas e suas leis para ampliar nosso fim”. “Tudo vale na nossa campanha para implementar e controlar a ‘cura mental’; para disseminar nossa doutrina e para nos vermos livres dos nossos inimigos”. “Pela Psicopolítica criem o caos”. “Tomem a nação sem líderes, matando assim os oposicionistas”. “E tragam para a Terra, através do comunismo, a maior paz que o homem jamais conheceu”.

Um paciente trabalho de intelectuais orgânicos foi efetuado no Brasil. Padres, professores, intelectuais, artistas, profissionais liberais se empenharam para elevar ao poder não a classe trabalhadora, mas o Partido dos Trabalhadores. Não temos mais instituições, oposições, lideranças que resistam à “cura mental” que nos é ministrada dia a dia. Confiantes, aguardemos através do petismo a maior paz que o brasileiro jamais conheceu. O problema é que a História sempre se vinga dos que a ignoram.


Nota do Editor: Maria Lúcia Victor Barbosa é graduada em Sociologia e Política e Administração Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em Ciência Política pela UnB. É professora da Universidade Estadual de Londrina/PR. Articulista de vários jornais e sites brasileiros. É membro da Academia de Ciências, Artes e Letras de Londrina e premiada na área acadêmica com trabalhos como "Breve Ensaio sobre o Poder" e "A Favor de Nicolau Maquiavel Florentino". Criadora do Departamento de Desenvolvimento Social em sua passagem pela Companhia de Habitação de Londrina. É autora de obras como "O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto: A Ética da Malandragem" e "América Latina: Em Busca do Paraíso Perdido".

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