Essa discussão sobre cartões corporativos e dossiês afins só serve para comprovar o que todos já sabem, em relação à política: mudam as pessoas, mas permanecem as práticas, para não usar uma expressão mais chula. Francamente, acho que não deve haver sigilo sobre gastos governamentais, exceto nos casos de segurança nacional. Para o caso em questão, a regra deveria ser: - Foi eleito ou nomeado para um cargo público? Parabéns! A partir da posse todas as suas fontes de renda e variação patrimonial estarão disponíveis para consulta dos cidadãos, bem como a relação de todos os parentes que você indicar para cargos públicos. Assim, se o indivíduo receber um cartão corporativo, o extrato será exibido on-line, via Internet, para qualquer contribuinte ver, e não haveria mais dúvidas sobre a compatibilidade entre padrões de vida e ganhos, nem acusações infundadas sobre nepotismo ou peculato. Tudo estaria resolvido! Afinal, quem opta pela vida pública o faz pelo firme e nobre desejo de prestar serviço ao povo, não é mesmo? Tanto é que quase todos os que o fazem dizem que são livros abertos. Pois que sejam livros-caixas também. Qual é o problema desses dados estarem disponíveis, então? O que ocupantes de cargos públicos podem gastar que um brasileiro não possa saber? Então, porque toda essa discussão interminável sobre o que deve ou não ser mostrado (e de quais governos), que transformam comissões parlamentares em palcos para performances pessoais que nada agregam ao objeto da investigação? De que adianta alguns clamarem por ética na vida pública, quando o que mais se vê é o corporativismo político, com ou sem cartão? Onde fica o brasileiro em meio a tudo isso? Será que sua opinião está sendo realmente representada por quem elegeu, mas sobre quem não tem nenhum controle ao longo do mandato? Se todos afirmam que não têm nada a esconder, porque não mostram? Se o problema é a partir de quando revelar dados, pois que mostrem tudo desde 07 de setembro de 1822 de uma vez! Quem paga a conta, o povo, tem o direito de saber quem fez a despesa e no quê. Quem sobrevive com um salário mínimo merece saber quem esbanja e/ou gasta mal um dinheiro que faz falta na saúde e na educação de seus filhos. Está difícil para os parlamentares decidirem, ainda mais em ano eleitoral? Não tem problema: promovam um referendo para que o eleitor decida. Ele o fará com lucidez, certeza e rapidez! Pode até ser que a maioria da população concorde que tudo pode continuar como está, mas pelo menos assumirá claramente sua conivência, em vez de ser sempre a última a saber... Não creio ser o caso, e por isso mesmo espero que as irregularidades existentes sejam sanadas, e que, além do cartão corporativo são, a maioria de nossos políticos haja, também, com mente sã! Nota do Editor: Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro, professor universitário (UNISANTOS e UNISANTA) e compositor. Mestrando em Educação (UNISANTOS). E-mail: prof_adilson_luiz@yahoo.com.br.
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