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Opinião
16/05/2008 - 10h03
Centenas de “Isabellas”
Mariana Franco Ramos
 
Violações de direito sofridas por crianças ganham os jornais

A morte de Isabella de Oliveira Nardoni, 5, encontrada com sinais de agressão no jardim do edifício London, zona norte de São Paulo, reacendeu o debate em torno da violência doméstica sofrida por crianças e adolescentes. Isabella não é diferente dos 532 meninos e meninas brasileiros mortos entre 2000 e 2007, segundo o Laboratório de Estudos da Criança (Lacri), da USP, em conseqüência desse tipo de agressão. Assim como eles, deveria estar protegida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), pela Constituição Federal e por tantos outros marcos legais criados para promover o princípio da prioridade absoluta aos menores de 18 anos.

O que chama a atenção no caso, salvo à brutalidade com que a menina foi asfixiada e jogada pela janela do quarto, não é, portanto, um suposto ineditismo. O espaço dado pelos jornais, rádios e televisões ao assassinato é que surpreende, tanto pela extensão das reportagens, como pelo deslocamento de equipes inteiras - muitas das quais acostumadas a produzir somente de dentro das redações – à delegacia, ao local do assassinato ou às residências da mãe e dos avós de Isabella.

Desde o final de março, quando ocorreu o crime, os veículos de comunicação brasileiros repercutem a notícia diariamente, mostrando incansáveis infográficos, análises, simulações ou entrevistas com testemunhas e suspeitos. Os índices de audiência, que crescem conforme surgem novidades sobre as investigações, são uma disputa midiática à parte. De acordo com a coluna Toda Mídia, publicada pelo jornalista Nelson de Sá na Folha de S. Paulo, a Globo chegou a destinar mais de 30% do Jornal Nacional do dia 15 de abril ao caso. Toda essa movimentação contrasta com o espaço normalmente cedido pelos periódicos latino-americanos à violência doméstica.

A pesquisa “Direitos, Infância e Agenda Pública”, realizada pela ANDI e pela Rede ANDI América Latina, mostra que os 121 jornais monitorados em 2005 publicaram 20.623 textos sobre violência contra crianças e adolescentes, o que corresponde a 8,69% das notícias sobre o universo infanto-juvenil. A atenção que cada um dos assuntos recebe, porém, é bastante desigual. Dois deles – abuso e exploração sexual; violência nas ruas e nas comunidades – respondem por cerca de 72% da cobertura. A violência doméstica ainda é muito pouco presente nas páginas dos veículos. É importante frisar também que, do total de reportagens, 74,71% não mencionam estatísticas, legislações, políticas públicas ou soluções para superar o problema.

Ao pesquisar quem são os principais atores ouvidos pelas redações, as agências perceberam que o jornalismo padece de uma dependência excessiva dos órgãos policiais e/ou responsáveis pela investigação de crimes, como se a violência infantil fosse caso apenas de polícia. Independentemente dos motivos que levam os meios de comunicação a repercutir mais a notícia da morte de Isabella do que a de outros meninos e meninas brasileiros, o fato é que a imprensa acabou criando uma nova e importante demanda. Enquanto a sociedade cobra a resolução do crime e, conseqüentemente, a punição dos responsáveis, a mídia mostra ser possível contrariar a suposta lógica para dar maior e melhor visibilidade à infância e à adolescência.

As violações de direito sofridas pelas centenas de “Isabellas”, muitas vezes ignoradas pelas câmeras ou escondidas na inviolabilidade dos lares, devem ganhar também as páginas dos jornais. E, junto com elas, é possível noticiar o esforço (ou negligência) do governo, das empresas e da sociedade em buscar soluções que realmente previnam e combatam a violência. Afinal, o fenômeno da violência doméstica não se modifica pela enorme repercussão de um caso espetacularizado pelos meios de comunicação, nem será resolvido por meio de uma catarse social. A sociedade, o Estado e os meios de comunicação – cujo papel na mobilização social é evidente – precisam encarar de forma ampla esta realidade cruel enfrentada por crianças em todo o Brasil, que ficam a mercê da própria sorte (que sorte!?).


Nota do Editor: Mariana Franco Ramos é coordenadora de Comunicação da Secretaria Executiva da Rede ANDI Brasil.

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