"O mercado não é uma selva onde as pessoas podem se beneficiar somente à expensa de outras." (Walter Block) A tática da esquerda de tentar monopolizar os fins para fugir do debate sobre os meios é bastante manjada. Na busca da imagem de nobre altruísta, o esquerdista típico condena o mecanismo de livre mercado como “insensível”, como se apenas aqueles que defendem o governo como meio fossem realmente bem-intencionados. Ou seja, somente a força concentrada em poucos “clarividentes honestos” pode ser pregada como veículo para os fins desejáveis, e todos que preferem o caminho da liberdade individual, mais justo e eficiente, são vistos como inimigos das causas nobres. O caso recente da crise de alimentos não foge desta regra. Em artigo no jornal O GLOBO, Luís Fernando Verissimo, um excelente ícone dessa esquerda hipócrita, colocou o problema da crise de alimentos da seguinte forma: uma conspiração de grandes produtores de alimentos deseja vender seus produtos pelo melhor preço, e esses “insensíveis” ignoram a fome dos mais pobres. A “lógica do mercado” levaria a este tipo de resultado, segundo o escritor. Somente ele, que defende o esforço alheio enquanto posa de nobre altruísta, estaria realmente preocupado com a fome no mundo. Somente aqueles socialistas que, como ele, depositam no governo o monopólio das boas intenções, liga realmente para os famintos. Curiosamente, os meios defendidos por estes socialistas sempre geraram imensa fome. Um “detalhe” ignorado por aqueles que estão preocupados demais com a imagem perante o rebanho, e não com os resultados concretos do que pregam. O livre mercado, com seu mecanismo de preços livremente formados, permite que os produtores utilizem cálculos racionais sobre a demanda e a oferta disponíveis para cada produto, tentando assim satisfazer da melhor forma possível os desejos e necessidades dos consumidores. Como Walter Block coloca na frase da epígrafe, o mercado não é uma selva, tampouco um jogo de soma zero, onde para alguém ganhar, outro tem que perder. Os ricos ficam ricos somente atendendo as demandas das massas, gerando mais conforto para todos. Através desta lógica passamos a contar com inúmeros remédios nas farmácias, produtos de todo tipo que reduzem nosso desconforto. Não há porque ser diferente quando se trata de comida. Pelo contrário: justamente numa questão tão fundamental como o alimento é que o mercado deve funcionar livremente, para poder atender todas as demandas existentes de forma eficiente. O socialismo, que é a supressão deste mecanismo de livre alocação de recursos e formação de preços, inviabiliza o cálculo racional dos agentes. Não há informações suficientes sendo transmitidas para os produtores saberem onde investir mais. O resultado inexorável é a alocação ineficiente dos recursos, gerando escassez dos bens desejáveis. Na falida União Soviética, o governo assumiu as rédeas da produção de alimentos, bem como Verissimo e demais esquerdistas gostariam. Todos conhecem o resultado: milhões morreram de inanição. Na China foi a mesma coisa quando Mao tentou controlar o mercado de produção de alimentos. No Camboja também. Na Índia também. Em resumo, onde existiu socialismo, tivemos a fome, a miséria e a escravidão como resultado. Será que não foi suficiente para todos aprenderem a lição e nunca mais demandarem o controle governamental em setor tão crucial? Infelizmente não. Verissimo não está sozinho. Muitos insistem nos erros do passado, e pedem mais governo para resolver os problemas do mercado, ampliando infinitamente o problema, quando existente. Na maior parte dos casos, os problemas existem justamente como conseqüência das intervenções do governo. O setor de alimentos é um dos mais protegidos pelos governos, com várias barreiras ao livre comércio, como subsídios, tarifas protecionistas, regulações absurdas etc. Não obstante este nexo causal entre excesso de governo e crise dos alimentos, eis como os diferentes países emergentes reagiram diante do aumento dos preços desses produtos: a China adotou controle de preços em diversos produtos, criou tarifas de exportação para grãos, soja e fertilizantes, e concedeu mais subsídios aos produtores; a Índia baniu o mercado futuro de alimentos, importante indicador de escassez iminente, e vetou a exportação de arroz; a Tailândia pretende criar um cartel como a OPEP para a produção de arroz, e o governo paga preços acima do mercado para os fazendeiros de arroz; a Filipinas deu subsídios para a produção de arroz e possui tarifas de importação de 50% para este produto; a Indonésia adotou restrições para a exportação de arroz e mais subsídios para a produção; o Vietnã baniu a exportação de arroz; a Malásia, por fim, concedeu bilhões em subsídios e também baniu a exportação. Como fica claro, o setor de produção de alimentos conta com uma hiperatividade estatal. E ainda tem gente que fica surpresa com a crise! A esquerda, ao buscar esse monopólio de fins, cria infinitas dicotomias falsas, enganando o mais leigo ou desatento. Este, sem conhecimento econômico adequado, passa a acreditar que a busca por lucro é inimiga da alimentação dos mais pobres. Nada poderia ser mais falso que isso! É justamente a busca incessante pelo lucro que garante a comida de todos. Tanto que nos países mais liberais não há problema de escassez de comida, para todos os gostos e bolsos. Já nos países onde as idéias esquerdistas vingaram, temos a fome como problema em grau bem mais sério. No extremo, onde o “paraíso” socialista foi buscado, a fome matou milhões de inocentes. A comida não vem da benevolência do açougueiro, como Adam Smith já havia notado em 1776. Vem da busca de seus próprios interesses, do lucro, aquilo que os esquerdistas condenam, por ignorância ou hipocrisia. Portanto, quando algum esquerdista tentar posar de nobre altruísta preocupado com os pobres famintos, questionando se devemos buscar comida ou lucro, a resposta deve ser direta: ambos! Afinal, aquela depende deste. A solução para o problema dos alimentos é deixar o livre mercado em paz. Nota do Editor: Rodrigo Constantino é economista formado pela PUC-RJ, com MBA de Finanças no IBMEC, trabalha no mercado financeiro desde 1997, como analista de empresas e depois administrador de portfólio. Autor de dois livros: Prisioneiros da Liberdade, e Estrela Cadente: As Contradições e Trapalhadas do PT, pela editora Soler. Está lançando o terceiro livro sobre as idéias de Ayn Rand, pela Documenta Histórica Editora. Membro fundador do Instituto Millenium. Articulista nos sites Diego Casagrande e Ratio pro Libertas, assim como para os Institutos Millenium e Liberal. Escreve para a Revista Voto-RS também. Possui um blog (rodrigoconstantino.blogspot.com) para a divulgação de seus artigos.
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