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Opinião
18/05/2008 - 17h12
O Caminho de Santiago de Compostela...
Rogério Silveira Monteiro
 
...e o desafio do autoconhecimento

A busca pela qualidade de vida é uma preocupação crescente de muitos profissionais, bem como tema de pesquisas e reportagens dos principais veículos de comunicação. No entanto, nota-se que em muitos casos as pessoas resignam-se sua saúde, o equilíbrio psico-emocional, a família, o lazer etc., em favor das empresas, de uma possível carreira, dos grupos sociais ou de outras pessoas. As minhas escolhas não eram diferentes!

Em meados de 2006, este cenário mudou-se radicalmente. Lancei-me em um desafio pessoal na busca que priorizava o auto-conhecimento e a saúde integral como fontes renovadoras das minhas competências: fazer de bicicleta o Caminho de Santiago de Compostela.

Este caminho é uma rota de peregrinação na Espanha que tem como ponto final a Catedral de Santiago de Compostela. Dentre as alternativas de rotas, escolhi fazer a rota Francesa. São aproximadamente 830 km de jornada por estradas de terras, trilhas, subidas e descidas que exigem determinação, força de vontade e abertura para experimentar conscientemente cada etapa percorrida.

Em julho de 2006 iniciei o processo de transformação individual. Foi necessário reeducar minha mente, desenvolver condicionamento físico, alimentar-me saudavelmente e criar fontes motivadoras para o treinamento intensivo, bem como para dirigir uma bicicleta em terrenos irregulares por mais de quatro horas durante vários dias. Não foi nada fácil. A motivação era decorrente da visão de todo o processo e das possibilidades de aprendizado.

A primeira lição foi na organização da agenda diária. Percebi que em muitos momentos as escolhas, os limites, as respostas eram demandas pessoais e não atendiam as expectativas de ninguém. Em outros, foi necessário negociar novos espaços, novos horários, novos objetivos. Depois de tudo redefinido, o caminho seguiu...

Após várias reflexões, defini alguns pontos prioritários que serviriam como norteadores para o planejamento da viagem. Chamei estes pontos de princípios centrais. O foco de atenção estava na compreensão do processo e em todas as suas possibilidades de aprendizagem e de auto-conhecimento. Ele iniciou-se no momento da decisão em fazer esta viagem e terminou no momento do retorno.

Princípios centrais:

1) A principal fonte de aprendizagem será o processo.
2) Estarei aberto para rever minhas crenças, minha escolhas, minhas opções.
3) A viagem será feita na sua totalidade, ou seja, todo o Caminho Francês.
4) Sairei sozinho, mas conhecerei as pessoas pelo caminho.
5) Estarei preparado para superar as possíveis adversidades, mas aceitarei e oferecerei ajuda.

Logo depois da decisão, o planejamento. Pesquisei vários sites que tratam do Caminho de Santiago, para poder definir meu roteiro de viagem; o que seria interessante conhecer, visitar; avaliei as possíveis dificuldades para o ciclista.

Em seguida, conversei com algumas pessoas que já tinham feito esta rota de bicicleta para melhor avaliar o meu plano e também para conhecer suas experiências e relatos que não estavam escritos em lugar algum. As conversas foram riquíssimas, pois além de conhecer pessoas interessantes, percebi o quanto o Caminho foi único para cada um.

O plano de viagem foi fundamental para orientar o percurso, levantar as possíveis necessidades de recursos e preparar algumas alternativas. Porém, o mais importante foi entender que era necessário permitir que este plano não limitasse a viagem em si mesmo, mas que nele contemplasse o incerto, o inesperado, o emergente.

Paralelamente ao planejamento, fui "pedalando atrás" das competências necessárias para tornar-me um cicloturista. Comprei uma bicicleta adequada ao percurso, entrei para uma equipe de treino, consultei nutricionista, aprendi fazer a manutenção da bicicleta, pedalei e pedalei.

Finalmente o embarque. Chuva, frio, um pouco de neve e algumas situações não previstas estavam à espera para o início da jornada. Mas, o caminho foi esplêndido. A cada dia uma surpresa agradável. A vida, por alguns dias, reduzida a um alto grau de simplicidade. As decisões tomadas focavam-se na melhor opção para seguir em frente, para ir ao encontro das expectativas, para contemplar o dia, para viver intensamente.

Estar sozinho possibilitou inúmeros momentos de reflexão e de auto-conhecimento. Tive uma maior consciência dos meus padrões de pensamentos, dos sentimentos, dos valores norteadores, e da fé; aprendi na prática a importância da escolha, uma vez que para corrigi-la era necessário voltar vários quilômetros; a importância do outro, do grupo, do bem comum, do planeta foi reforçada.

Cheguei a Santiago de Compostela com quatro dias de antecedência ao planejado, sem nenhum prejuízo do maior aproveitamento possível de cada etapa. Simplesmente estava mais bem preparado do que imaginei no início.

Aliás, reconheço agora que o planejamento inicial serviu principalmente para o desenvolvimento das competências necessárias para a viagem, para direcionar os esforços e para estabelecer os grandes objetivos. Porém, o percurso esteve muito mais centrado naquilo que emergia, no alinhamento das necessidades, em me dedicar da melhor forma possível.

O caminho me deu a certeza de que podemos ir além quando realmente acreditamos em algo, em alguém. Percebi a importância de termos uma dedicação ao desenvolvimento profissional sem deixar de integrar a vida pessoal, a família, os amigos, a saúde integral. Tudo e todos fazem parte daquilo que somos - seres humanos.

Continuo pedalando rumo a novos caminhos, novas possibilidades, novos horizontes. Por que não, em 2008, a Estrada Real?


Nota do Editor: Rogério Silveira Monteiro (rsm@siegen.com.br) é Mestre em Administração e diretor da Siegen Consultoria, especializada em recuperação de empresas e gestão estratégica de negócios. É também professor e membro do Grupo de Pesquisa de Gestão Baseada em Valores da Universidade Mackenzie.

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